Páginas

quarta-feira, 30 de março de 2011

Vegetarianismo



Por Marise Berg

Ilustração: Madu Cabral


O vegetarianismo é o sistema alimentar que não implica em sacrifício de vidas animais para servir à alimentação.

Apesar de diversos estudos científicos apontarem para os benefícios físicos de uma dieta vegetariana, a simples supressão de ingestão de produtos de origem animal não garante a boa saúde.

Esses estudos têm relacionado a alimentação vegetariana à redução das taxas de mortalidade por infarto e doenças cardíacas, além de baixos índices de colesterol, constipação, transtornos digestivos, menor pressão arterial, redução considerável do risco de apresentar diverticulite, diabetes, pedras na vesícula, obesidade e câncer, principalmente do intestino grosso e da próstata. A dieta vegetariana também facilita a atuação dos rins e do fígado, cuja palavra em inglês liver significa vivedouro, devido à sua importância na nossa fisiologia.

Parte desses benefícios se deve ao fato da dieta vegetariana se diferenciar da onívora (com consumo de carnes) em aspectos que vão além da simples supressão de produtos de origem animal. Os vegetarianos fazem um consumo elevado de vegetais, frutas, cereais, legumes e nozes, além de sua dieta conter menor quantidade de gordura saturada e, relativamente, maior quantidade de gordura insaturada, carboidratos e fibras. Frequentemente os vegetarianos também ingerem pouco álcool, não fumam e praticam atividades físicas.

Uma alimentação vegetariana adequada pode ser capaz de atender as necessidades nutricionais do organismo (exceto pela vitamina B12), sendo fundamental consultar um profissional para garantir a combinação adequada dos alimentos e não aumentar o risco à saúde por inadequação alimentar.

Pessoas que ainda não estão prontas para se tornar vegetarianas podem se beneficiar da redução do consumo de carnes, principalmente a vermelha. Tecnicamente, precisamos diariamente de aproximadamente 0,8 g de proteínas por quilo de peso corporal. Uma pessoa de 55 kg precisa de 44 g de proteínas provenientes da dieta para satisfazer as suas necessidades fisiológicas. Ou seja, a nossa dieta, de um modo geral, é hiperprotéica. Cada alimento fornece um percentual diferente de proteínas, com qualidades diferentes (composição de aminoácidos). Os vegetais podem fornecer todos os aminoácidos essenciais (que não são sintetizados pelo organismo), desde que haja variedade na ingestão desses alimentos. O nutricionista é o profissional que pode calcular a quantidade de cada nutriente das dietas, adequando-as com segurança às nossas necessidades individuais.

Como a alimentação está relacionada com nosso comportamento, sentimentos e pensamentos? Existe uma relação muito íntima entre o que pensamos e sentimos com o que comemos e esses aspectos se influenciam mutuamente. Manter um padrão emocional positivo terá um impacto positivo sobre as escolhas alimentares, enquanto fornecer bons nutrientes ao cérebro fomentará o bom funcionamento das emoções.

Do ponto de vista bioquímico, todos os elementos químicos presentes no nosso organismo, como enzimas, hormônios e neurotransmissores, são provenientes da dieta. Eles são o combustível que abastece todos os órgãos e sistemas. Mas quem determina como e por que os sistemas farão uso desse combustível é o nosso sistema nervoso. O nosso organismo funciona como um carro: o sistema nervoso é o motorista; o organismo é o veículo e o alimento é o combustível. Se o motorista for gentil com o seu veículo e abastecê-lo com um bom combustível, o bom funcionamento da máquina estará garantido. Mas, se o motorista for imprudente, não há gasolina aditivada que faça a máquina ter bom desempenho. Por outro lado, se o motorista for ótimo e a gasolina for de má qualidade, a máquina também estará comprometida. Se ambos forem de má qualidade, chegaremos onde estamos hoje com a disseminação de uma epidemia mundial de doenças relacionadas à alimentação inadequada, como a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, câncer etc.

Do ponto de vista ecológico e espiritual, a escolha da dieta não envolve apenas o comensal e a sua saúde individual. A cadeia alimentar envolve muitos aspectos: o ambiente, o solo, o sol, a chuva, o trabalho árduo de quem planta e colhe, transporta, vende, prepara; o consumo de recursos utilizados do planeta para a produção dos alimentos etc. Tornar-se vegetariano é uma questão de ética global que precisa partir dos nossos corações.

Desde que nos sintamos parte de um planeta onde todos os seres estão interligados, ao escolhermos a nossa dieta é importante levarmos em consideração aspectos econômicos, ecológicos, éticos, espirituais ou religiosos e, claro, os científicos a respeito de saúde e higiene.

Qual o efeito do vegetarianismo em nossos corpos (físico e sutil)? A dieta vegetariana está baseada no conceito de não violência. Tornar-se vegetariano é um ato de consciência e pode ser o ponto de partida para uma vida mais ética, pautada na compaixão e não na competitividade até as últimas consequências. Comer carne está associado ao assassinato ou sofrimento animal. Uma pessoa consciente não consegue viver psiquicamente bem ingerindo esses alimentos.

Compaixão pelos seres vivos inclui o autorrespeito. O nosso corpo é a casa da nossa alma e dos nossos genes. É a ferramenta pela qual a nossa alma expressa os seus talentos. Um corpo mal cuidado, mal alimentado, atrapalha os planos da nossa moradora mais nobre. Outros moradores ilustres como os nossos antepassados e os nossos futuros descendentes também dependem da boa saúde desse corpo para continuarem essa história. É por meio desse corpo que nos relacionamos com o universo, com a natureza, com as outras pessoas. Todos esses elementos se reuniram – as árvores, as nuvens, o solo, tudo – para trazer a presença deste corpo. O respeito ao próximo depende essencialmente do autorrespeito.

Como o Ayurveda está relacionado com o vegetarianismo? A receita Ayurvédica para a boa saúde existe há mais de 3.000 anos. Essa ciência da longevidade saudável e feliz recomenda, de modo geral, uma dieta ovolactovegetariana com alta ingestão de hortaliças ricas em fibras e nutrientes, muitos grãos (feijões variados), cereais, frutas oleaginosas, ingestão de líquidos, óleos e açúcares de boa qualidade, exercícios físicos, bom sono e descanso, meditação diária e uma atividade sexual saudável.

Existem pessoas que precisam comer carne? Existem casos onde a Ayurveda recomenda a ingestão de carne, desde que seja de boa procedência, fresca, orgânica, e que o preparo dessa carne seja saudável, evitando a formação de agentes carcinogênicos (como ocorre no churrasco). Normalmente usamos o caldo de carne em casos específicos de debilidade física, principalmente em idosos e crianças, em estado de convalescência e desnutrição (energia vata muito agravada).

Quais os cuidados que devemos ter com uma alimentação vegetariana e quais os riscos que uma alimentação vegetariana (para crianças e adultos) pode ter? O cuidado mais urgente na dieta vegetariana é quanto à vitamina B12, que só existe em produtos de origem animal, sendo essencial ao nosso organismo, ou seja, a sua falta provocará desequilíbrios importantíssimos, como a anemia, a impotência, perturbações psiquiátricas e paralisia, podendo levar o indivíduo à morte. A suplementação dessa vitamina deve ser feita por veganos, sem exceção, e os ovolactovegetarianos devem fazer acompanhamento periódico desse nutriente, recorrendo também à suplementação, se for o caso.

Outro nutriente que requer atenção é o zinco – um mineral fundamental para a imunidade, presente com mais intensidade na carne vermelha, nos peixes e frutos do mar.

Os outros riscos alimentares dos vegetarianos são exatamente os mesmos dos onívoros: deficiência ou excesso de determinados nutrientes e suas consequências.

Crianças podem ter uma alimentação vegetariana? Com quais cuidados? Sim, podem. Desde que a dieta seja muito equilibrada, variada, fresca e orgânica – o que requer auxílio profissional. Não se deve basear a dieta de uma criança somente no conhecimento popular e nas informações oferecidas por revistas e internet sob o risco de lhes causar desequilíbrios gravíssimos, às vezes irreversíveis. As grávidas também deveriam ter acompanhamento nutricional desde o planejamento da gestação.


Sugestões de leitura sobre vegetarianismo:

Alimentação sem carne. Dr. Eric Slywitch.

O cérebro desconhecido. Dr. Helion Povoa.


Marise Berg

Terapeuta Ayurvédica e culinarista na clínica Cítara Saúde. É também editora do site www.ayurvedicamente.com.br onde dá dicas de alimentação, saúde e Ayurveda.

E-mail: mariseberg@hotmail.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário