Por Márua Roseni Pacce
Ilustração: Rita Taraborelli
Ilustração: Rita Taraborelli
“Só é possível viver em plenitude quando estamos em
harmonia com estes símbolos e voltar a eles é sabedoria.” § 794.CW.8-2
Quando os primeiros textos da tradição indiana
começaram a ser traduzidos chegando ao continente europeu, já neste momento
Jung os recebia com todo interesse. A primeira tradução das Upanishds chegou em
1901, em latim, e este exemplar consta da biblioteca dele em Zurique. Em outros
momentos, como na Primeira Guerra Mundial, Jung relata praticar relaxamento
como uma forma de lidar com o estresse daquela situação. Aqui e lá, vamos
encontrando uma infinidade de citações dos textos indianos em sua obra,
agora corroborados pela publicação do Livro Vermelho.
Simultaneamente, ele está envolvido em uma ampla
correspondência com autores que simplesmente ainda são referência na atualidade
para todo aquele que deseja acessar este conhecimento. Trocava correspondência
com Surendranath Dasgupta, da Universidade de Calcutá, com H. Zimmer,
importante indólogo, considerado por Jung um gênio, E. Wentz (O Livro Tibetano
dos Mortos), Conde Keyserling, e outros que lhe forneciam importantes subsídios
para suas pesquisas. Estudou profundamente a tradução do Sat Cakra Nirupana
feita por Arthur Avalon para tecer seus incríveis comentários psicológicos
sobre o sistema do Kundalini Yoga.
Quando entrou em contato com o Kundalini Yoga pela
primeira vez, no entanto, considerou que este conhecimento era exótico demais
para nós ocidentais. Mas os caminhos invisíveis da alma o colocaram frente a
frente com uma paciente que estava sofrendo uma enorme desadaptação.
Esta paciente suíça vivera os seis primeiros anos de
sua vida em Java, então possessão indiana, e fora amamentada por uma babá local,
tendo absorvido de alguma maneira em seu inconsciente as concepções orientais.
Na sua volta à Europa a paciente viveu um choque de culturas, apresentando
febre, intensas emoções, choro e uma dificuldade em se relacionar. Em seus
sonhos faz alusões constantes aos motivos javaneses até trazer um relato de que
um elefante branco saía de seus genitais.
Jung estava desconcertado. Nunca tinha ouvido falar
“tamanha maluquice”.
Este panorama se entrelaça ainda, especialmente ao
longo das três primeiras décadas do início do século XX, com os estudos das
diversas concepções filosóficas oriundas da cultura indiana.
No entanto, é com a chegada dessa paciente que Jung
passa a estudar profundamente a psicologia do Kundalini Yoga. Este sistema
único apresenta-lhe uma narrativa do desenvolvimento da consciência humana em
suas fases que correspondem ao chakras
(vórtices de energia sutil em nosso corpo) e que apontam para a
supraconsciência, ou como Jung se refere, ao caminho dos deuses, ou ainda
consciência suprapessoal. Este mapa da consciência tira Jung do
descontentamento que a visão da psicologia lhe oferecia até então e aqui entram
as questões com Freud que não cabem análise neste contexto.
O sistema de chakras
descreve o desenvolvimento da vida impessoal, sendo ao mesmo tempo um
simbolismo iniciático e um mito cosmogônico. Por este modelo, Jung resgata o
pensamento nas imagens primordiais e nos símbolos que, como se sabe, são mais
antigos do que o homem histórico.
O surgimento da psicologia analítica é neste contexto
simultâneo às primeiras traduções dos textos de Yoga para o ocidente.
Márua
Roseni Pacce é analista
junguiana, membro do Instituto Junguiano de São Paulo e da Associação Junguiana
do Brasil e da IAAP (International
Association for Analytical Psychology), com sede em
Zurique. Professora de Yoga há 37 anos, Márua fundou o Nucleo de Yoga Ganesha
em São Paulo, que completará 30 anos em 2012. Terapeuta corporal, estudou em
diversos países, além de visitar todos os anos a Índia, onde busca seu
aprimoramento contínuo.
Eventos Relacionados:
Vicara: quem sou eu?
Ensinamentos contidos na prática transmitida por Ramana Maharshi, o sábio de Arunachala que foi comentado por Carl Gustav Jung no texto sobre Psicologia e Religião Oriental.
Facilitadora: Márua Roseni Pacce - analista junguiana, membro do Instituto Junguiano de São Paulo, da Associação Junguiana do Brasil e da IAAP-International Association Psychology, com sede em Zurique, e diretora do Núcleo de yoga Ganesha, que comemora 30 anos em São Paulo.
Data: dia 24 de fevereiro (Sexta feira)
Horário: 19h às 22h.
Local: Núcleo de Yoga Ganesha (São Paulo - SP)
Infos: AQUI
Inscrições antecipadas.
Excelente artigo!
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