Páginas

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A Gravidez e os Cinco Elementos

Por Maíra Duarte

A união do espermatozóide com óvulo dá início a uma nova vida e é neste momento que se forma o prakrut do ser humano, sua constituição original. Esta origem influenciará todos os processos metabólicos, emocionais e a estrutura corporal desta nova pessoa.

Durante cada fase da gravidez, o bebê desenvolve tecidos e órgãos específicos e todos os cuidados com a gestante devem respeitar os processos da mãe e do bebê. A mãe necessita dos elementos terra e água não só em quantidade, mas principalmente em qualidade. Estes elementos são responsáveis pela estruturação e crescimento dos tecidos. A necessidade da gestante de reter e ingerir em maior quantidade os elementos terra e água faz com que ela facilmente acumule toxinas. Por isso no Ayurveda são zeladas rotinas alimentares e práticas para equilibrar o bom fluxo da terra e da água durante a gravidez.

Todos os movimentos do nosso corpo são regidos pelo elemento ar. O processo intenso de transformação e a transferência energética da gestante para o bebê representam atividade excessiva do ar. Os alimentos e as práticas que nutrem a gestante com os elementos terra e água ajudam a equilibrar este excesso.

A alimentação, as aplicações de óleo e a respiração adequada são as principais formas de manter a mulher equilibrada. Durante a gestação também é fundamental manter as eliminações naturais reguladas (urina, fezes e suor), assim como expressar as emoções. Existem três aspectos fundamentais para o organismo se manter saudável: ingerir alimentos saudáveis, metabolizar bem os alimentos e eliminar as excreções adequadamente. Durante a gestação é dada atenção redobrada para que isso seja respeitado, já que os tecidos do bebê estão sendo formados e a gestante necessita de energia extra para gerar uma nova vida.

As eliminações reguladas favorecem um bom trabalho de parto. De acordo com o Ayurveda, existe o vento descendente (apana) que atua no nosso corpo regendo as principais eliminações e também a expulsão do bebê na hora do nascimento. Por isso, quando as eliminações, principalmente fezes e urina, estão fluindo de forma adequada, o vento descendente vai favorecer um bom trabalho de parto.


Maíra é terapeuta ayurvédica formada Escola Yoga Brahma Vidyalaya e no Curso Avançado de Ayurveda pela Academia Internacional de Ayurveda, na Índia. Especializou-se nos cuidados ayurvédicos com a gestante (Perfect Pregnancy Program). Doula formada pelo GAMA (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) e pela ONG Amigas do Parto, Maíra realiza acompanhamento de gestantes durante a gravidez, trabalho de parto e pós-parto. mairaduarte@gmail.com, (11) 8415-8222


Livre-se das Toxinas

Por Dr. José Ruguê Júnior

Em fisiologia estudamos sempre a digestão como um processo completo, ou seja, como se 100% dos alimentos ingeridos se transformassem em nutrientes e dejetos. Mas, de fato, raramente conseguimos tal otimização de nossa máquina digestiva, muito sensível a uma diversidade de fatores, inclusive emocionais.

Quando essa relação do processo digestivo não se faz adequadamente, parte do alimento não é completamente digerida e estes restos de alimentos não digeridos vão passar ao intestino, no caso da digestão geral, e, por si mesmos ou pela ação dos microorganismos existentes no intestino, vão se transformar em substâncias altamente agressivas ao organismo. Essas substâncias são chamadas, em conjunto, ama. Portanto, ama não se refere a toxinas externas, mas àquelas produzidas pelo próprio organismo, pela digestão incompleta dos alimentos.

Algumas dicas simples podem ser seguidas para avaliar a presença de ama em seu organismo e para evitá-la:

- Olhe para sua língua todas as manhãs, limpe-a e veja se retorna uma cobertura branca. Decida o que e quando comer baseado nisso, a presença da cobertura sinaliza presença de ama no organismo.
- Tome água morna pela manhã.
- Só coma se tiver fome real. Observe o comportamento de sua fome real, orgânica. As pessoas de natureza pitta têm fome frequente. As de natureza kapha têm fome pequena, mas constante e podem comer mesmo sem fome, o que os torna grandes geradores de ama. Os vata têm a fome irregular, muito sensível à sua excitabilidade ou emoção.
- Observe se a refeição anterior já foi digerida antes de comer novamente (regra áurea!). Como posso saber? Observe os seguintes detalhes:
*Sensação de leveza no estômago duas ou três horas após haver comido.
*Ausência de sintomas de indigestão como salivação excessiva, empachamento e náusea.
- Evite associações incorretas de alimentos, como carnes, ou peixes ou aves com laticínios. Iogurte com frutas ácidas, excesso de alimentos crus, principalmente no inverno.
- Faça um jejum, na forma de monodieta, periodicamente. Para os kapha deve ser semanal, para os pitta, quinzenal e para os vata, mensal. Utilize chás de ervas, maçãs cozidas e apenas o caldo de sopas de legumes para kapha. Sucos de clorofila, maçãs cruas para pitta, principalmente no verão. Leite orgânico de vaca, fervido com cardamomo e gengibre ou um purê de cará ou inhame para vata, por um dia completo.
- Estimule o agni sempre que perceber que sua digestão não está perfeita, ou seu apetite está reduzido ou irregular ou se sente indisposto. Uma colher de chá de mistura em partes iguais de gengibre em pó, ghi e açúcar mascavo, tomada em jejum todas as manhãs, por sete dias, é um bom estimulante do agni.
- Utilize temperos em sua alimentação. Gengibre, cúrcuma, cominho, coentro, cardamomo, canela, cravo, pimenta do reino, pimentas, fenogrego e outros devem ser incorporados em nossa alimentação diária de acordo com nossas necessidades.
- Observe o clima: períodos mais frios exigem a utilização de alimentos mais cozidos e com mais temperos "quentes". Isso se aplica principalmente se estiver frio e úmido. Se estiver frio e seco, acrescente azeite de oliva e ghi na sua alimentação. O clima quente recomenda alimentos mais crus, saladas coloridas, massas mais leves, arroz, legumes, brotos e mais frutas.
- Não faça exercícios pesados com fome. Eles reduzem o agni no momento e aumentam depois de algumas horas.
Transforme sua refeição em um momento sagrado. Evite conversar demasiadamente, discutir problemas, barulho. Invista em você! Coma o melhor alimento, bem preparado, por pessoas que você conheça e confie e que gostem de você! Reverencie seu fogo digestivo dando a ele o alimento na medida certa. Nem mais nem menos!
- Faça comida para as pessoas que você gosta. Compartilhe! Quando estamos felizes nosso fogo digestivo se torna ótimo. Quando estamos tristes tudo faz mal, porque nosso agni se apaga.
Portanto, essas são algumas recomendações gerais. Os médicos e terapeutas ayurvédios podem dar orientações mais específicas de acordo com a constituição, o desequilíbrio, o momento e outros fatores. Reverencie seu agni e vigie a formação de ama, tomando medidas adequadas aos primeiros sinais. Esta é a maneira inteligente de viver, proposta pelo Ayurveda.

Formado em 1981 em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia, com título de especialista em Terapia Intensiva pela AMIB em 1985. Chefe da UTI do Hospital Santa Genoveva de Uberlândia de 1985 a 1999, Dr. Ruguê foi diretor clínico desse hospital por vários anos. Conviveu com seu mestre, Sri Vájera Yogui Dasa (grande erudito da ciência védica e yóguica) no Brasil e no Chile, de 1973 a 1984. Membro do corpo docente da International Academy of Ayurveda, Presidente do Movimento Mundial de Ayurveda, com sede em Milão – Italia e membros em todo o mundo. Dá cursos por todo Brasil, Portugal, Itália. http://www.suddha.net



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tempere seu Verão

Por Madu Cabral

Algumas ervas, comuns mesmo nos apartamentos de São Paulo, podem ser de grande ajuda depois de um dia escaldante no trânsito. No banho, na comida, nos chás, as ervas podem ajudar a revitalizar, a acalmar ou refrescar, dependendo da escolha e das combinações.

"Os banhos com ervas são utilizados terapeuticamente há milênios, trazem bem-estar, saúde, alegria, paz e equilíbrio" explica a herborista Sabrina Jeha. "Fisicamente são bem eficazes para o tratamento de feridas, alergias, escoriações, reumatismos, dores musculares e articulares", continua Sabrina, que é sócia viveiro orgânico Sabor de Fazenda Ervas e Temperos.

Para quem tem banheira, a dica é fazer um litro de chá bem forte da erva(s) escolhida(s). Quem não tem, pode colocar a erva em um pedaço de fralda de criança e amarrar, como uma trouxinha, no chuveiro.

Sabrina recomenda

O banho pode ser transformado em um pequeno ritual diário. Pense em como foi seu dia, no que seu corpo está pedindo agora e escolha o perfume que quer em seu banho. Estimule seus sentidos para ajudar a se manter no momento presente, e traga uma qualidade meditativa para esse momento do dia!

Hortelã e menta: banho revitalizante e de equilíbrio. Transforma a energia negativa, fortalece e estimula o sistema respiratório, tem ação tonificante para o metabolismo, descongestiona e limpa a pele.

Calêndula: suas lindas pétalas alaranjadas nos remetem à vitalidade e à luz do sol! Suas propriedades medicinais têm poder antisséptico, revitalizante e anti-inflamatório. Proporciona proteção e saúde para a pele.

Manjericão: Na Índia é uma planta sagrada usada, entre outras coisas, para trazer pureza e luminosidade para o corpo. Nos banhos, tem a função de acalmar, limpar, trazer boa sorte e equilíbrio energético.

Bebidas refrescantes

Usar e abusar das águas com ervas e frutas e dos chás gelados de ervas feitos em casa (sem açúcar e sem cafeína)

Águas com ervas: água com ramos de hortelã, uma rodela de limão e outra de laranja;

Chá de casca de abacaxi com hortelã: lave bem a casca do abacaxi antes de descascá-lo, ferva com um litro de água por 10 minutos. Desligue o fogo retire as casca e coloque 4 ramos de hortelã, deixe em infusão por mais 15 minutos, coe e coloque para gelar.


Sabrina Jeha é herborista do viveiro orgânico Sabor de Fazenda Ervas e Temperos.
(11) 2631 4915 www.sabordefazenda.com.br


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Alimentação Ayurvédica para o Verão

Por Heloísa Franchi

O tempo quente desta época do ano desumidifica o organismo, fazendo o sangue engrossar. Portanto, devemos ingerir alimentos com alto teor de umidade, numa dieta bem equilibrada e fracionada, com intervalos freqüentes e devemos aumentar o consumo de líquidos durante o verão. Algumas dicas para uma alimentação equilibrada no verão são:

- Alimentos indicados: frutas, verduras, legumes, folhas verdes, cereais integrais, pães integrais, carnes magras, queijos menos gordurosos, sobremesas à base de frutas e muitos líquidos. Faça refeições mais leves.

- Alimentos a serem evitados: alimentos gordurosos (carnes gordas, queijos gordurosos, molhos à base de creme de leite, maionese). Evitar frituras e maneirar nas bebidas alcoólicas. Pois, no verão, nosso organismo fica mais sensível aos condimentos fortes e às gorduras;

- Fracione as refeições diárias, coma mais vezes em menor quantidade;

- Ingestão de líquidos devem ser frequente (água, sucos naturais, chás e água de coco);

- As saladas cruas são excelentes opções para obtenção de energia e devem ser regadas com azeite de oliva extravirgem. Ao consumir o azeite extravirgem, estamos ingerindo 77% de gordura monoinsaturada, o que torna o óleo mais saudável em relação aos outros. Outro tempero indicado é o limão.

- Evite o consumo de salgadinhos e frituras.

Receitinhas Refrescantes

Suco de laranja, agrião e maçã

Ingredientes:
8 laranjas
1 maçã com casca
4 galhos de agrião com talos
1 copo de água

Modo de preparo:
Esprema as laranjas e reserve. Bata no liquidificador separadamente a maçã com água e depois o agrião com a água restante e coe. Junte os sucos e adoce se preferir.

Bebidas para o verão:

- Água fria com mel.
- Limonada fria com mel.
- Suco de tamarindo: deixe um pacote de tamarindo seco de molho na água de um dia para o outro. Quando a fruta estiver macia, amasse-a com água até formar uma pasta (pode usar o liquidificador) e coe. Acrescente água, dando-lhe a consistência de suco de maçã. Depois adicione uma pitada de sal, um raminho de hortelã, algumas uvas passas e açúcar mascavo ou mel a gosto. Esta bebida é excelente para os dias quentes, quando estamos desanimados.
- Lassi: iogurte, água, água de rosas, hortelã fresca, uma pitada de açafrão e mel. É calmante e refrescante, fornece ao organismo vitamina B12 e outras vitaminas.

Suco de abacaxi com cavalinha

Ingredientes:
1 xícara (chá) de água
1 colher (sobremesa) de cavalinha seca
1 rodela de abacaxi
4 folhas de hortelã
1 folha de alface
1 colher (sopa) de mel (orgânico)
1 cubo de gelo

Modo de fazer:
Prepare o chá: coloque a água no fogo e, assim que ferver, desligue e acrescente a cavalinha. Tampe a panela. Deixe em infusão por cinco minutos e coe. Bata no liquidificador com os outros ingredientes e coe novamente.

Suco verde

Ingredientes:
1 copo de 200 ml de água de coco
1 maçã com casca picada
1 folha de couve
1 colher de sopa de mel
1 cubo de gelo

Modo de preparo:
Colocar no liquidificador a água de coco, a maçã picada, a couve, o mel e o gelo. Bater tudo.

Heloisa é formada em Naturologia pela Universidade Anhembi Morumbi e em Ayurveda com Doutor José Ruguê Ribeiro Júnior da Escola Yoga Brahma Vidya. Formou-se no Curso Avançado de Ayurveda pela Academia Internacional de Ayurveda na Índia e especializou-se nos cuidados ayurvédicos com a mulher e a gestante (Perfect Pregnacy). Atualmente cursa a Especialização em Nutrição Clínica, pelo IMEN.
citara saúde - 38140700, clínica gaia -22754577


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre Rituais – Parte II

Por Carlos Eduardo Gonzales Barbosa

Os rituais vinculados ao tempo sempre foram muitos. Alguns indicavam o momento propício para o plantio e a época certa para a colheita, regulados pelas estações do ano. Outros ajustavam a mente para as tarefas do dia, ou a tranquilizavam para o sono à noite.

Muitos atos comuns eram ritualizados, ganhando uma cadência e um ritmo ajustados para maximizar seus efeitos ou resultados. O ritual, nesse sentido, era um procedimento que ajustava nossas expectativas ao andamento natural de qualquer processo que buscasse maturação ou transformação. A flor tem um tempo certo para desabrochar, e o fruto tem o seu momento de amadurecer. A beleza perfeita da flor e o sabor delicioso do fruto são o resultado de se permitir que o tempo certo seja alcançado por aquela expressão da vida natural.

Nossos antepassados tinham a paciência de aguardar o momento propício para aquilo que desejavam fazer. Respeitando o tempo dessa maneira, ainda que desprovidos dos recursos e confortos que nos beneficiam hoje, desfrutavam de uma qualidade de vida muito superior à nossa. A civilização moderna, no entanto, rompeu esse milenar respeito ao tempo e entrou em um processo de enfrentamento da ordem natural, perdendo a percepção do tempo e focando apenas nos resultados. A velocidade acelerada da vida moderna nos tornou incompatíveis com a maior parte dos rituais.

Nossos antepassados perceberam que nossa mente funciona, de certa maneira, como um vegetal. Ideias e valores precisam ser cultivados com cuidado e atenção, para que no momento certo, produzam suas flores e frutos. Privar a mente de seu ritmo próprio e impor a ela uma rapidez artificial foi uma opção equivocada de nossa civilização, que removeu de muitos processos mentais ou fisiológicos o tempo próprio de ocorrência e finalização.

O excesso de atividades e estímulos sensoriais a que se expõe o indivíduo moderno produz o estresse, que é uma tensão interna destinada a promover a assimilação das informações recebidas. Quando falta o tempo necessário ao relaxamento após essa estimulação inicial, o estresse torna-se mal resolvido e produz efeitos danosos na nossa estrutura corpórea e mental. O ritual, por outro lado, orienta a atenção do praticante e elimina os efeitos negativos do estresse, porque permite que o processamento do estímulo sensorial tome o tempo necessário para concluir o seu ciclo e se tornar benigno.

A reinserção do ritual em nossas vidas é, portanto, uma necessidade concreta, mas precisa ser feita com naturalidade. Um ritual deve obedecer a uma ordem que se depreende naturalmente dos fatos, e que não deve ser imposta por convenções sociais. O ritual será sempre benigno se for feito de modo a ajustar o ritmo de nossas atividades, a fortalecer nossa atenção e a reafirmar os valores que nos dão sustentação social.


Carlos Eduardo Gonzales Barbosa é mineiro de Juiz de Fora, dedica-se ao estudo das culturas da Índia desde 1972. Cursou sânscrito na Universidade de São Paulo e, desde 1975, ministra cursos e palestras sobre temas relacionados à Índia, ao hinduísmo e ao Yoga. Em 2010, Carlos dará um curso de sânscrito falado pela internet. editor@yogaforum.org