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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tadasana – Mitologia

Por Carlos Eduardo Barbosa

Imagine que você está no alto de uma montanha, a seis mil metros de altitude, na cordilheira do Himalaia. Imagine-se como um rochedo sem qualquer vegetação, coberto de neves eternas e fustigado por um vento furioso, que faz um enorme ruído enquanto passa por você. Essa é a imagem precisa da postura da montanha, tadasana.

Seu nome não aparece nos textos originais da tradição Natha, e possivelmente foi criação do mestre contemporâneo Krishnamacharya, na década de 1930, ou foi inventado nos quartéis militares dos reinos hindus dos séculos XVII a XIX (que adotaram o Yoga como parte da disciplina dos seus soldados) e depois copiado pelos instrutores modernos. O fato é que, mesmo não sendo muito antigo, é um nome que sugere a necessidade de desenvolver muita disciplina para suportar os rigores de condições adversas. Esse é justamente o espírito desse asana (postura do Yoga).

Além de evocar esse cenário fantástico dos elevados picos nevados do Himalaia, morada mítica dos grandes yogis, a palavra "tada" (cujo "d" é pronunciado com a ponta da língua tocando o céu da boca) também alude à batida de um instrumento musical. O verbo "tad", que significa "bater", é usado para expressar o som do chicote que castiga e também o som da vareta que tange as cordas de um instrumento musical. A dança clássica indiana (Bharat Natyam) se serve de um percussionista de voz que usa as sílabas "ta" e "da" dessa mesma palavra para traduzir para os outros músicos o ritmo das passadas da dançarina. Isso revela que, por trás do nome dessa postura, existe uma visão poética e musical da natureza, que faz representar o ruído dos ventos que açoitam o penhasco como um canto melancólico que convertesse em lamento a dura solidão do asceta, nos rigores de sua prática.

Por isso, quando fizer esse asana e quiser se beneficiar também do poder inerente ao seu nome, procure experimentar a dureza de um rochedo gelado, sem vegetação ou animais para lhe dar vida, e continuamente batido pelos ventos mais frios que este mundo conhece. Esses ventos, que rugem e que dão o ritmo da respiração do rochedo, são a forma coletiva e primitiva do deus Shiva, patrono dos yogis e que recebia o nome de "rugidor" – Rudra.

Carlos Eduardo Gonzales Barbosa dá aulas de Sânscrito e de Culturas da Índia desde 1982, desde 2004 tem foco no Sânscrito falado. Dedica-se ao estudo da tradição do Yoga, em especial dentro da perspectiva dos Nathas.
Contato: carlos.eduardo@mais.com
site: www.yogaforum.org


Tadasana

Ilustrações e edição: Madu Cabral

Tada
– montanha

Quando Usar (por Analu Matsubara)
Usamos a postura da montanha muitas vezes entre as séries de posturas em pé, para nos recuperarmos da anterior e voltarmos ao equilíbrio estável da montanha.

Alinhamentos (por Pedro Bara)
Em pé, junte os pés, unindo os dedões e os calcanhares. Leve o peso para a parte anterior dos calcanhares e alargue a bola e os dedos dos pés no chão.
A partir da ação dos pés contra o chão, eleve as patelas.



Leve as coxas anteriores para trás e traga o cóccix para dentro com a mesma intensidade. Coxas internas para trás. Estenda a coluna para cima. Role os ombros para trás e eleve o centro do peito.



Alinhe a parte de trás da cabeça com o sacro. Estenda os braços ao longo do tronco com as palmas na direção das coxas, relaxe os ombros e mantenha os dedos unidos e relaxados. Queixo paralelo ao chão, olhar para frente, relaxe o olhar e a face. Mantenha-se no presente.

Anatomia (por Carolina Langowski)
Essa postura, também conhecida por samasthiti (sama – em pé, reto, imóvel e sthiti – estabilidade), ativa a musculatura da parte superior das costas (principalmente romboides), aproximando as escápulas uma da outra e mantendo-as afastadas das orelhas.

A contração do abdome (uddhyana bandha) deve ser mantida, direcionando as últimas costelas (flutuantes) em direção ao umbigo.

Trabalha também toda a musculatura anterior e posterior e ativa a consciência de todos os músculos desde a sola dos pés até o topo da cabeça.

É uma postura muito importante para construir uma base equilibrada para os outros asanas.

Pedro Bara Zanotto graduado em Esporte pela USP. Praticante de Iyengar Yoga há 11 anos e certificado pela Associação Brasileira de Iyengar Yoga no nível Intermediate Junior 2. Professor e coordenador do Centro Iyengar Pôr-do-Sol. Ministra curso de formação de professores em Iyengar Yoga. www.centroiyengar.com.br

Analu Matsubara formou-se pelo Studio Surya e é certificada internacionalmente pelo Ramamani Iyengar Yoga Institute em Puna, Índia. Hoje dá aulas regulares e uma Formação de Professores em Iyengar Yoga. http://tinyurl.com/yhwhmws


Naam Yoga

Por Joseph Michael Levry (Gurunam)

Naam Yoga é um método de organização do novo corpo espiritual. Sua prática estimula as células do cérebro a se conectarem entre si de forma complexa, ativando caminhos neurais e conexões que estão subutilizadas, melhorando sua saúde.

Quando você escuta o naam (palavra, verbo) sendo vibrado por um grupo, a vibração penetra no espaço por meio das vozes que são curativas e estimulantes para a alma humana. Naam permanece por um longo tempo no espaço onde foi vibrado, curando e estimulando todos que entram em contato com essa energia.

Entre os muitos benefícios do Naam Yoga está seu impacto no cérebro e no sistema endócrino. A prática pode elevar os níveis baixos de serotonina advindos do estresse, falta de sono e exercício, má nutrição e deficiência de luz do sol. Esses fatores estão conectados com desordem de déficit de atenção, irritabilidade, depressão, agressão, ansiedade, dificuldade de concentração, dor crônica, falta de descanso ou fadiga, náusea, desordem obsessivo-compulsiva, ganho ou perda de peso, fibromialgia, artrite, síndrome de fadiga crônica, intolerância ao calor e outras síndromes.

Os benefícios espirituais do Naam Yoga também são numerosos. Aqueles que praticam são estimulados a vivenciar o envolvimento e perfeição da alma, uma abertura das faculdades intuitivas e do coração, e a habilidade de reconhecer a beleza interior e exterior. Com a prática, o centro do seu ser estará conectado com o coração do universo, de maneira que as correntes que passam pelo seu corpo entrarão em harmonia.

"No princípio era o Verbo"

Naam criou o mundo, pois é o primeiro elemento que Deus colocou em ação. É a harmonia do universo atuando desapercebidamente, a fonte e origem da natureza. Por isso, é viva dentro de nossas mentes e corpos; viva na natureza que nos fez e onde vivemos. Em outras palavras, Naam está em um ritmo e tom que mantêm o mecanismo de nosso mundo e nosso ser intacto.

Para maiores informações: www.naamyoga.com.br
São Paulo: 24 e 25 de abril
Rio de Janeiro: 28 de abril


Uma Luz no Caminho

Por Tereza Freire

Vivemos em uma era de fragmentações: as famílias estão fragmentadas, as relações fragmentadas, o conhecimento fragmentado e não é à toa que nos sentimos tão isolados.

Sofremos porque nos vemos como indivíduos separados do todo. Essa separação nos traz uma sensação de falta, de vazio e faz com que pensemos que a felicidade está em algum lugar fora de nós. O que não percebemos em nossa ignorância espiritual é que nós já temos esta felicidade, apenas não conseguimos enxergar.

Segundo o conhecimento védico, nosso nascimento é resultado de punya e papa, ou seja, de méritos e deméritos. O que costumamos chamar de sorte é resultado de boas ações praticadas anteriormente, que nos deram conhecimento e experiência que se manifestam na vida em forma de prosperidade, talentos, proteção e sucesso.

O contrário de punya é papa, ou "mau karma", os resultados de ações não meritórias feitas no passado e que se manifestam em forma de dificuldades, dores, perdas e sofrimentos.

No entanto, precisamos compreender que estas dificuldades são grandes oportunidades para o crescimento espiritual, nossos problemas existem para nos ensinar.

Jyotish, a Ciência da Luz.

Segundo o Dr. David Frawley, o mapa astral védico é, provavelmente, o maior indicador do DNA da nossa alma. A astrologia védica é uma maravilhosa ferramenta de autoconhecimento, que deve ser consultada para que possamos desenvolver plenamente nossos dons e potencialidades.

A leitura do mapa astral nos proporciona insights profundos sobre os padrões de comportamento que insistimos em manter e que impedem nosso desenvolvimento espiritual. Podemos entender quais ações fizemos no passado, como elas estão afetando nosso presente e como provavelmente afetarão nosso futuro.

O mapa védico nos aponta a direção do dharma, nossa missão no mundo. Serve como uma bússola em nosso caminho, nos indicando que atitudes devemos tomar e como agir com discernimento.

O que somos no presente é resultado de nossas ações no passado e o que seremos no futuro depende nossas ações agora!

O verdadeiro sentido da palavra karma é ação. Todas as nossas palavras, pensamentos e ações geram resultados e carregamos os seus efeitos queiramos ou não.

O mapa védico faz uma radiografia de nossa alma, é a luz e a bússola ao mesmo tempo.

Ilumina e mostra a direção a ser tomada.

Tereza Freire é mestre em Historia Social pela PUC de São Paulo.
Diretora e roteirista do documentário "Caminhos do Yoga".
Formada em Hatha Yoga por Pedro Kupfer.
Escreve o blog: www.yoganavida.blogspot.com

Yoga pela Paz indica o livro Escrito nas Estrelas – Astrologia Védica no Dia a Dia, por Horácio Tackanoo.

Para adquirir o livro: www.casamoksha.com.br
Para consulta: www.astrologiavedica.com.br


terça-feira, 13 de abril de 2010

O Ashtanga Vinyasa Yoga como Terapia

Sessão de perguntas e respostas do workshop com o professor Manju Jois em Florianópolis, SC.

Manju Jois estará em Florianópolis (SC) pela terceira vez esse ano, de 09 a 15 de abril. Mais informações: http://ashtangasoul.blogspot.com/p/cursos-e-eventos.html

O Ashtanga Vinyasa Yoga se tornou um dos métodos mais divulgados de Yoga por ser uma prática fisicamente exigente e pelos adeptos famosos que conquistou. A prática é formada por séries fixas de asanas (posturas de Yoga) feitas de forma fluida e as posturas são ligadas umas as outras pela respiração (vinyasa).
Como as seqüências podem ser intensas a prática é reconhecida quase como uma malhação e por lesionar seus praticantes. Mas a origem dessa prática, formatada pelo pai de Manju Jois, Pattabhi Jois e seu professor Krishnamacharya, tem uma finalidade terapêutica, como explica Manju na abaixo.



Por que as posturas do Ashtanga foram organizadas em grupos?
Você aprende passo a passo. Começa o surya namaskar (saudação ao sol), depois aprende as posturas primárias, intermediárias e avançadas. É feito dessa forma para que as pessoas aprendam, mas depois você escolhe as posturas que são boas para seu problema. Depois que aprender a sequência, verá qual postura faz bem para o que. Então escolhe a postura que você precisa e permanece cada vez mais tempo nessa postura e seu problema desaparecerá.

Depois de descobrir qual postura resolve meu problema, tenho que fazer a sequência inteira ou somente a postura indicada?
Você precisa fazer o surya namaskar A para aquecer seu corpo e depois deve fazer todas as posturas em pé. Só então pode ir para a postura que quer. Os asanas são como remédios e é bom sempre finalizar as práticas com os pranayamas (exercícios respiratórios) e os mantras.



Como o Ashtanga cura?
A medicina ocidental resolve o problema, mas não destrói sua causa. O Yoga vai direto à raiz do problema. Existem muitos bloqueios em nosso corpo e as posturas ajudam a desfazer esses bloqueios. Com a prática de asanas, você melhora o sistema circulatório e lugares que não recebiam oxigênio suficiente passam a receber. Todos os problemas no corpo começam com má circulação e má respiração. É assim que o Yoga funciona, melhorando a circulação e corrigindo a respiração.
Se você pratica com uma boa respiração ujjai e depois faz os pranayamas é como se fizesse uma limpeza completa do "motor" do seu corpo. O Yoga leva tempo para curar, mas é garantido.



Você sabe dos efeitos da prática de Ashtanga para quem tem colesterol alto?
Bom, o Ashtanga Yoga não cura tudo, pois algumas doenças que temos são genéticas. Eu tinha uma saúde perfeita e até completar 63 anos não sabia que tinha um problema no coração. Toda a família da minha mãe morreu de problemas cardíacos, é genético.
Estava andando no aeroporto em Londres e meu peito começou a doer, minha mão começou a doer. Então parei e comecei a fazer pranayama até me livrar disso. Fui pegar minha bagagem e senti novamente a dor e soube na hora que tinha um problema no coração. Comecei a fazer surya bedhana pranayama, saí de lá e dei duas semanas de workshop. A primeira coisa que fazia ao acordar eram os exercícios respiratórios, precisava me manter vivo para voltar para casa!
Quando cheguei em casa, na Califórnia, fui direto ao cardiologista. Fiz um raio-x do coração e assim que o médico viu, perguntou qual era o meu trabalho. Disse que ensinava Yoga, o médico se interessou, expliquei sobre os pranayamas no aeroporto e o médico disse: "Bom, de acordo com o raio-x do seu coração, você deveria estar morto!" O médico então explicou que o pranayama ajudou a suprir com oxigênio o coração que estava debilitado. É por isso que eu falo para todos fazerem os exercícios respiratórios, são muito bons para a saúde.

Fotos: Rosangela Castellari
www.aryoga.com.br
youaregiventofly.blogspot.com
www.flickr.com/photos/rocastellari


Respiração e mantras para saúde

Sessão de perguntas e respostas do workshop com o professor Manju Jois em Florianópolis, SC.

Manju Jois estará em Florianópolis (SC) pela terceira vez esse ano, de 09 a 15 de abril. Mais informações: http://ashtangasoul.blogspot.com/p/cursos-e-eventos.html

O sistema do Ashtanga Vinyasa Yoga vai além da prática de asanas (posturas do Yoga). Quando ensinado da forma tradicional, como faz o professor Manju Jois, as posturas são apenas partes da prática, que sempre inclui os pranayamas (exercícios respiratórios) e os mantras.

Já ouvi falar que no Ashtanga os pranayamas são ensinados apenas para praticantes avançados. Você os ensina para iniciantes?
Começo a ensinar os pranayamas depois de três a seis meses de prática. Quando uma pessoa começa a praticar, ensino a respiração ujjayi (respiração vitoriosa) que não serve apenas para a prática, ela deve ser feita o tempo todo, 24 horas por dia.
No sistema do Ashtanga temos sete tipos de pranayamas, eu só ensino três, os outros não são importantes para nós.



A prática de asanas e pranayamas pode causar tonturas, por quê?
Quando começa a praticar, você passa a usar o corpo de uma forma que não está acostumado, como se respirasse um excesso de oxigênio e fica tonto. Mas algumas mudanças começam a acontecer no corpo e ele passa a se ajustar a essas práticas e você deixa de sentir essa tontura. Sua circulação também melhora: leva mais oxigênio e tira mais gás carbônico do corpo, é ciência! Quando tudo isso acontece em seu próprio laboratório, seu corpo entra em um pequeno choque e há tontura, confusão. Esses são estágios das mudanças do corpo.

É importante cantar os mantras em determinada frequência correspondente aos chakras?
Sim, os cantos védicos devem ser cantados em sua própria frequência e isso cria uma vibração que fica aqui, entre nós, depois de cantarmos. Se uma pessoa entra na sala, ela também recebe essa cura.
É por isso que na Índia temos que ir para o Sanskrit College, onde o ensino é feito de um professor para um aluno, como se fosse música. Eu canto mantras o dia inteiro, enquanto tomo banho, enquanto lavo a louça. Ajuda a fazer os serviços mais rapidamente!
Os mantras podem ser feitos o dia inteiro, porque quanto mais você faz, melhor para você, mas não faça o Gayatri à noite.

Organização: Ana Cláudia Lopes
ashtangasoul.blogspot.com

Fotos: Rosangela Castellari
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Aspectos da Prática de Ashtanga Vinyasa Yoga

Sessão de perguntas e respostas do workshop com o professor Manju Jois em Florianópolis, SC.

Manju Jois estará em Florianópolis (SC) pela terceira vez esse ano, de 09 a 15 de abril. Mais informações: http://ashtangasoul.blogspot.com/p/cursos-e-eventos.html

Entenda mais sobre uma das práticas mais populares da atualidade, o Ashtanga Vinyasa Yoga, em uma sessão de perguntas e respostas com o filho do criador do método, Manju Jois.



Qual é o objetivo da prática de Ashtanga?
O Ashtanga foi organizado em três séries, as outras foram inventadas com o tempo. O primeiro estágio da prática é chamado de Yoga Chikitsa, que é a purificação do corpo. Para alcançar um certo estágio da mente, você primeiro precisa trabalhar com seu corpo para garantir que não tem nenhuma doença. Normalmente, as doenças começam no sistema digestivo, se você não consegue digerir sua comida, esse é o começo do seu problema, tudo é bloqueado. Por isso, praticamos sempre com uddiyana bandha (fecho do abdome) e mula bandha (fecho da raiz), que são muito importantes para a prática. Depois que o seu estômago está totalmente limpo, você fica cada vez mais saudável. Até a água que ingerimos deve sair.

Esse é um dos motivos pelo qual falamos em sempre manter a coluna ereta, isso afeta muito bem o cólon. Todas as posturas de flexão para frente também trabalham nos órgãos internos, pois comprimem essa região. Se permanecermos nessas posturas com a respiração profunda, aumentamos nosso fogo interno e esse calor viaja pelo corpo como corrente elétrica.

Nos tempos antigos, os sábios sabiam como acabar com a raiz dos problemas do corpo e a prática de asanas preparava um corpo saudável para sentar em meditação. O corpo deve ficar firme nas posturas, o calor gerado elimina tudo que é ruim no corpo, a respiração ujjayi (respiração vitoriosa) profunda é como se assoprasse o fogo e faz ele crescer. Quanto mais fogo é criado no corpo mais puro será. O Yoga é simples, todo o resto é que é complicado!



A prática também afeta o sistema nervoso?
A prática purifica tudo, incluindo o sistema nervoso. Não é algo que você precise pensar a respeito, é só praticar. O começo da prática aflora muitas emoções, as pessoas choram e às vezes profanam, aflora toda a raiva, frustração e é assim que se purifica o corpo. Quando você libera todo o medo, não tem mais nada a temer, seu medo é você mesmo.

A transpiração continua intensa mesmo em séries mais avançadas?
Não, o suor é um tipo de purificação e eliminação de toxinas. Às vezes é melhor não colocar seu tapete perto de um iniciante, você vai descobrir todos os problemas que ele tem, o suor nunca mente!

Na filosofia do Yoga é dito que quando as impurezas começam a sair do corpo o cheiro é de esgoto. Com a purificação, as toxinas são lentamente eliminadas, a circulação melhora e o corpo começa a receber muito oxigênio e lentamente seu suor passa a ter cheiro de perfume.

Qual o melhor horário para a prática, quando não se pode praticar de manhã?
Não importa, apenas pratique, na hora em que for possível. Uma oração pode ser feita a qualquer hora e o Yoga é como uma oração.

É comum o aparecimento de lesões?
Todos os asanas que fazemos têm uma geometria, devemos posicionar nosso corpo de acordo com cálculos geométricos. Asanas consistem de linhas paralelas, triângulos, círculos e por isso fazemos ajustes nas posturas. Quando se alinha uma postura, o corpo começa a sentir e você nunca se machuca.

Alguma dica para manter a disciplina na prática de Yoga?
Primeiramente, precisa ter paixão por qualquer coisa que queira fazer. Com a paixão, essa atividade começa a ser prioridade na sua vida, é o que quer fazer logo que acorda, passa a ser uma necessidade e você não consegue mais viver sem.

Como fazer para não perder o controle do mula bandha (fecho da raiz) no decorrer da prática?
Primeiro você começa praticando uddiyana bandha (que é mais fácil). Quando começa a fazer o uddiyana corretamente, o mula bandha acontece sem nenhum esforço, automaticamente. No uddiyana bandha, os músculos do abdome devem ir cada vez mais em direção às costas e então o mula bandha é automático.

O que fazer quando temos dificuldade em determinada postura?
Você deve permanecer mais tempo nela. Às vezes um lado é mais fácil do que o outro, então você deve colocar mais energia no lado "ruim".
O Yoga é sobre a prática, você não é obrigado a fazer todas as posturas, você tem que tentar sentar em uma postura e tirar o máximo de benefícios possíveis dela. Você pode fazer dez posturas corretamente em vez de 40 posturas erradas.



O que você tem para falar sobre a alimentação?
Devemos comer normalmente comidas sattvicas, que são leves. Muitos feijões, arroz e lentilhas são protéicos.
O ser humano não precisa comer carne, conseguimos todas as proteínas e vitaminas de outros alimentos como a lentilha. Eu nasci vegetariano, nunca comi carne na minha vida. Quanto mais vegetariano você se torna, melhor para seu corpo, é uma alimentação mais fácil de ser digerida. A comida precisa ser digerida, se fica parada no sistema digestivo, começa uma doença. A carne leva muito tempo para ser digerida.
Comer apenas quando sente fome também é um hábito muito saudável.

Organização: Ana Cláudia Lopes
ashtangasoul.blogspot.com

Fotos: Rosangela Castellari
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Ashtanga Vinyasa Yoga

Por Ana Cláudia Lopes
Fotos: Rosangela Castellari

Ashtanga Vinyasa Yoga é um método ensinado por Sri K. Pattabhi Jois no Ashtanga Yoga Research Institute, em Mysore, Índia. Sua metodologia está baseada na sincronização dos movimentos com a respiração, através de sequências de posturas distribuídas em seis séries. De acordo com a tradição, as práticas são feitas individualmente, cada praticante segue no seu próprio ritmo, e ao longo do tempo, assim que for atingindo proficiência na postura, vai gradualmente recebendo outra.



Dessa forma, o método se adapta a todos os níveis de praticantes e possibilita ao professor, sempre que necessário, ajustar e auxiliar o aluno na execução das posturas.

Por ser dinâmica e fluida, esta prática produz um calor interno capaz de purificar o corpo físico, deixando-o mais forte e saudável e ainda promove mais clareza e equilíbrio para a mente.

Ana Cláudia é professora de Ashtanga Vinyasa Yoga em Florianópolis, SC e foi a organizadora do workshop com Manju Jois.
ashtangasoul.blogspot.com


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Yoga nas Alturas

O escalador Eduardo Sobrosa procurou uma aula de Yoga para melhorar seu desempenho nas rochas. Os benefícios e a filosofia acabaram transformando Eduardo em professor. Veja suas dicas de como melhorar as duas práticas.

Virabhadrasana II (postura do guerreiro II)

Há quanto tempo você escala?
Escalo há 13 anos e pratico Yoga há 6 anos.

Como o Yoga te ajuda na prática de escalada?
Principalmente com as técnicas de respiração. É muito importante parar para perceber a respiração, e manter as emoções sob equilíbrio é fundamental, porque se entrar em desespero, cai.

Trikonasana (postura do triângulo)

Quais são os principais problemas do escalador?
Os problemas mais comuns de quem escala são algumas lesões nos ombros e nos dedos e essas são as regiões que devem ser fortalecidas. O Yoga pode ajudar nisso, além de melhorar o alongamento. O escalador precisa de alongamento para ter mais amplitude de movimento, caso contrário seus movimentos ficam limitados e ele não consegue estender muito os braços ou subir muito as pernas.

Parivrta trikonasana (postura do triângulo torcido)

Como você acha que a escalada ajuda na prática de Yoga?
Na verdade, acho que o Yoga ajuda mais a escalada, mas um aspecto importante é o fato de que o Yoga trata de filosofia e da prática de auto-observação, mas na escalada não podemos parar para pensar sobre isso. Durante a escalada, você está tão integrado com o momento presente que nada pode te tirar daquilo, senão algo pode dar errado. Mas podemos estar em uma aula de Yoga pensando em outra coisa.

Uttanasana (postura do alongamento intenso)

Quais posturas você indicaria para quem escala?
Acho que alguns aquecimentos antes de escalar são recomendados, como a postura do guerreiro II para aquecer bem as pernas, o trikonasana e o parivrta trikonasana para trabalhar a flexibilidade da lateral do tronco e o uttanasana para relaxar bem as costas e a parte posterior das pernas antes de entrar na parede.

Eduardo Sobrosa: yogakailash.com.br


União dos Opostos

Por Madu Cabral

Os arquétipos do Yoga podem ser reconhecidos em situações do dia a dia e trabalhados na sua prática de asanas. A professora Lygia Lima, que dá aulas em São Paulo, explica como as representações de Shiva e Shakti aparecem e podem ser trabalhadas em nossas práticas de Yoga.

1. O que são Shiva e Shakti?
Shiva é a representação simbólica de nosso próprio estado de consciência. É também tudo que representa o masculino, como o lado direito do corpo, o calor, a razão. Shakti é o poder criativo, o que movimenta. É o oposto complementar de Shiva, a intuição.

2. Como esses conceitos se relacionam com a prática?
A prática equilibra essas duas energias e tudo começa no equilíbrio do processo respiratório. Ida e pingala (canais de energia sutil correspondentes às narinas esquerda e direita, respectivamente) devem trabalhar de forma ideal. Mas o aluno deve ter o interesse por esse equilíbrio, deve experimentar os exercícios e ter paciência para observar os resultados. O exercício de nadi sodhana (respiração polarizada) é um exemplo claro disso. A prática automática, sem consciência, não traz os mesmos benefícios. É preciso interesse pela investigação dessas ferramentas ancestrais, manter a plenitude no processo.

3. Onde podemos ver Shiva e Shakti na prática de asanas?
Na prática de asanas, Shakti está relacionada com o fluxo, com o movimento preenchido pela respiração completa. Ela é representada pela leveza e graciosidade dos asanas. Shiva é a consciência do que está sendo feito, o bom-senso em reconhecer os limites e as possibilidades de uma investigação com ahimsa (não-violência).

4. Qual o objetivo dessa prática?
O objetivo é o resgate de uma prática dentro da tradição do Hatha Yoga, com todos os elementos além do asana.

Lygia é praticante e estudante de Yoga, dá aulas de Vinyasa Flow em São Paulo e cursos por todo o Brasil. nacaoyoga.blogspot.com


Shiva, o Destruidor

Por Márcia De Luca


Talvez a mais antiga imagem venerada no mundo hoje, Shiva é também conhecido como Nataraja, o deus da dança e do Yoga, o dançarino cósmico, bem como senhor das artes marciais e protetor dos animais.


Sobretudo, Shiva é o deus da destruição – aquele que abre espaço para o novo. Toda criação será incinerada pelo fogo da renovação no momento em que este deus abrir seu terceiro olho, localizado entre as sobrancelhas.


Geralmente, esse deus que completa a tríade hindu é representado como um lindo jovem. Sua iconografia é bastante rica:


❁ Ele aparece coberto por cinzas da pira fúnebre, mostrando que é o senhor da destruição.
❁ No pescoço, tem pendurada uma guirlanda de cérebros, mundamala, que representa a revolução dos anjos e os sucessivos surgimentos e desaparecimentos da raça humana.
❁ Na cabeça, leva o símbolo da lua crescente, demonstrando que o tempo é apenas um ornamento para ele. A lua representa o tempo, dado que os dias e os meses estão ligados às suas fases.
❁ A coroa de cabelos trançados da qual flui o rio Ganges, cujas águas representam jñana, o conhecimento.
❁ As cobras venenosas simbolizam a morte, mas, para Shiva, são apenas decoração. Só ele pode engolir o veneno chamado halahala e assim salvar o mundo. Por isso, ele é Mrytiunjay, o conquistador da morte. As serpentes representam também a energia básica – semelhante à energia sexual – de todos os seres. Portanto, Shiva é o senhor da energia.
❁ O pé levantado simboliza a libertação. Ele dança sobre um demônio que representa a escuridão e o mal, estando, portanto, acima da ignorância. O demônio Apasmarapurusa representa o ego a ser eliminado.
❁ A pele de tigre, que, por ser um animal feroz e devorar sua presa sem compaixão, representa o desejo que consome os seres humanos, eternos insatisfeitos. Ao vestir a pele do tigre, Shiva demonstra que matou o desejo, sobrepôs-se a ele.
❁ A pele de elefante: como o elefante é um animal poderoso, usar sua pele implica que o deus subjugou completamente os impulsos animais.
❁ Olhos e cabelo: o sol e a lua formam seus olhos e todo o céu, o vento soprando, forma o seu cabelo. Por isso, Shiva é chamado de Vyomakesa, aquele que tem o céu e o espaço como cabelo.
❁ Shiva pode ser representado tendo de duas a 32 mãos. Alguns dos objetos mostrados em suas mãos são:
Trishula: o tridente, arma importante de ataque e defesa, indicando que Shiva é o senhor supremo. Filosoficamente, representa os três gunas ou três processos – criação, preservação e destruição. Aquele que carrega o tridente é o mestre dos gunas e dele provêm os processos cósmicos.
Damaru: o tambor, que Shiva toca ao dançar, produz sons sagrados, conhecidos como maheswarasutras. Ele representa a linguagem e o som. Ao segurá-lo em suas mãos, o deus demonstra que toda a criação, incluindo as várias formas de artes e ciências, originam-se dele e de sua dança.
Khatvanga: uma varinha mágica, com um crânio na ponta, mostra que ele é um adepto das ciências ocultas.
Darpana: espelho, indica que toda a criação nada mais é do que um reflexo de sua força cósmica.


Se Shiva representa o princípio da destruição, ao mesmo tempo ele também é responsável pela criação e pela existência – porque, no fim das contas, a tríade é apenas um. Brahma, Vishnu e Shiva são como "estágios" de um mesmo ciclo infinito de criação, permanência e destruição, que abre espaço para a nova criação.


A dança de Shiva Nataraja (nata significa bailarino e raja, real) guarda esse significado de processo contínuo. Segundo a lenda, ele dança todas as noites a fim de liberar todas as criaturas do sofrimento e para divertir os deuses, sendo por isso chamado também de Sabhapati, o senhor da congregação.


Texto retirado do livro Ayurveda, A Cultura de Bem-Viver, de Márcia De Luca e Lúcia Barros.

Curso com Márcia De Luca:


Yoga Ayurveda e Liberdade


Márcia De Luca e Pedro Kupfer

Data: 29 e 30 de outubro
Horário: sábado das 9h às 17h domingo das 9h às 13h
Local: Yoga Flow CIYMAM (São Paulo-SP)
Infos AQUI

Márcia De Luca é praticante, estudante e professora de Yoga e Ayurveda, autora de diversos livros sobre o assunto e idealizadora do projeto Yoga pela Paz e da Filosofia de Bem-Viver. http://marciadeluca.com/ 
Contatos: (11) 3168-5096 ou andrea@marciadeluca.com.br


Shakti, o Poder da Deusa

Por Márcia De Luca

Segundo a filosofia hindu, a fonte e a sustentação da criação, seja no nível da matéria, seja no da mente, é somente uma: Shakti, a energia feminina.

Representada como uma serpente em movimento, Shakti é o poder que sobe por nossa coluna vertebral até o topo da cabeça, proporcionando o estado de samadhi, a hiperconsciência, a iluminação.

Essa energia é representada pela consorte – ou contrapartida – de cada divindade masculina. Assim, todos os membros da tríade hindu têm sua devi – divindade feminina – correspondente: Saraswati é a devi de Brahma; Lakshmi é a devi de Vishnu; Parvati é a devi de Shiva.

Todos nós temos as qualidades do masculino – ou de Shiva, que é a representação máxima da potência masculina, a força, a coragem e o poder; e do feminino – ou de Shakti, a energia feminina, a intuição, o amor e a compaixão.

Como tudo no universo depende do equilíbrio, segundo o Ayurveda, os homens precisam desenvolver Shakti, e as mulheres, Shiva.

Texto retirado do livro Ayurveda, A Cultura de Bem-Viver, de Márcia De Luca e Lúcia Barros.