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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tadasana – Mitologia

Por Carlos Eduardo Barbosa

Imagine que você está no alto de uma montanha, a seis mil metros de altitude, na cordilheira do Himalaia. Imagine-se como um rochedo sem qualquer vegetação, coberto de neves eternas e fustigado por um vento furioso, que faz um enorme ruído enquanto passa por você. Essa é a imagem precisa da postura da montanha, tadasana.

Seu nome não aparece nos textos originais da tradição Natha, e possivelmente foi criação do mestre contemporâneo Krishnamacharya, na década de 1930, ou foi inventado nos quartéis militares dos reinos hindus dos séculos XVII a XIX (que adotaram o Yoga como parte da disciplina dos seus soldados) e depois copiado pelos instrutores modernos. O fato é que, mesmo não sendo muito antigo, é um nome que sugere a necessidade de desenvolver muita disciplina para suportar os rigores de condições adversas. Esse é justamente o espírito desse asana (postura do Yoga).

Além de evocar esse cenário fantástico dos elevados picos nevados do Himalaia, morada mítica dos grandes yogis, a palavra "tada" (cujo "d" é pronunciado com a ponta da língua tocando o céu da boca) também alude à batida de um instrumento musical. O verbo "tad", que significa "bater", é usado para expressar o som do chicote que castiga e também o som da vareta que tange as cordas de um instrumento musical. A dança clássica indiana (Bharat Natyam) se serve de um percussionista de voz que usa as sílabas "ta" e "da" dessa mesma palavra para traduzir para os outros músicos o ritmo das passadas da dançarina. Isso revela que, por trás do nome dessa postura, existe uma visão poética e musical da natureza, que faz representar o ruído dos ventos que açoitam o penhasco como um canto melancólico que convertesse em lamento a dura solidão do asceta, nos rigores de sua prática.

Por isso, quando fizer esse asana e quiser se beneficiar também do poder inerente ao seu nome, procure experimentar a dureza de um rochedo gelado, sem vegetação ou animais para lhe dar vida, e continuamente batido pelos ventos mais frios que este mundo conhece. Esses ventos, que rugem e que dão o ritmo da respiração do rochedo, são a forma coletiva e primitiva do deus Shiva, patrono dos yogis e que recebia o nome de "rugidor" – Rudra.

Carlos Eduardo Gonzales Barbosa dá aulas de Sânscrito e de Culturas da Índia desde 1982, desde 2004 tem foco no Sânscrito falado. Dedica-se ao estudo da tradição do Yoga, em especial dentro da perspectiva dos Nathas.
Contato: carlos.eduardo@mais.com
site: www.yogaforum.org


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