Páginas

quinta-feira, 31 de março de 2011

Receita: barrinhas de cereais

Receita retirada do livro A Cozinha Vegetariana de Astrid Pfeifer

Ingredientes

2 colheres (sopa) rasas de linhaça dourada (20 g)

5 colheres (sopa) de nozes (62 g)

5 ameixas-pretas sem caroço (46 g)

9 damascos secos (82 g)

1 banana media (98 g)

1/2 xícara (chá) de quinoa em flocos (44 g)

1/2 xícara (chá) de aveia em flocos (46 g)

2 colheres (sopa) de gergelim torrado (20 g)

1 colher (sopa) rasa de óleo (8 g)

4 colheres (sopa) de agave (64 g)


Modo de Preparo

1 Cubra a linhaça com água e deixe de molho por apenas 15 minutos.

2 Pique as nozes, as ameixas e os damascos em pedaços pequenos e coloque

em uma panela.

3 Amasse a banana com um garfo e coloque-a na mesma panela, junto

com os demais ingredientes.

4 Mexa tudo e leve ao fogo por 5 minutos, apenas para dar liga.

5 Coloque a massa em uma forma untada com óleo. Alise-a com as costas

de uma colher, pressionando levemente para que fique firme.

6 Com a ponta de uma faca risque a superfície da massa, demarcando o

tamanho das barrinhas.

7 Leve ao forno médio (180°C), preaquecido, e asse por cerca de 30 minutos ou até estar dourada.

Tire do forno para não ressecar e deixe esfriar. Corte as barrinhas

seguindo as marcas feitas.


Rendimento: 15 barrinhas pequenas.


Sugestões:

Ao substituir o agave pelo melado, as barrinhas ficarão mais escuras.

Você pode substituir as oleaginosas ou as frutas secas por outras.

Para eliminar o glúten da receita, retire a aveia e aumente a quantidade

de quinoa.


Esta receita é rica em: proteína; ômega-6;

ômega-3; fibra; cálcio; ferro; magnésio;

fósforo; potássio; manganês; selênio; betacaroteno.




A dra. Astrid Pfeiffer nasceu em São Bento do Sul, em Santa Catarina. É nutricionista e pós-graduanda em nutrição clínica funcional. Especialista em dietas vegetarianas, terapeuta aiurvédica pela Escola Yoga Brahma Vidya e Internacional Academy of Ayurveda e especialista em nutrição aiurvédica pela International Academy of Ayurveda, ambas da Índia, trabalhou durante sete anos no Lapinha Spa, na cidade de Lapa, no Paraná. Atualmente, atende em sua clínica particular, em São Paulo, e ministra cursos e palestras sobre culinária vegetariana.



quarta-feira, 30 de março de 2011

Vegetarianismo



Por Marise Berg

Ilustração: Madu Cabral


O vegetarianismo é o sistema alimentar que não implica em sacrifício de vidas animais para servir à alimentação.

Apesar de diversos estudos científicos apontarem para os benefícios físicos de uma dieta vegetariana, a simples supressão de ingestão de produtos de origem animal não garante a boa saúde.

Esses estudos têm relacionado a alimentação vegetariana à redução das taxas de mortalidade por infarto e doenças cardíacas, além de baixos índices de colesterol, constipação, transtornos digestivos, menor pressão arterial, redução considerável do risco de apresentar diverticulite, diabetes, pedras na vesícula, obesidade e câncer, principalmente do intestino grosso e da próstata. A dieta vegetariana também facilita a atuação dos rins e do fígado, cuja palavra em inglês liver significa vivedouro, devido à sua importância na nossa fisiologia.

Parte desses benefícios se deve ao fato da dieta vegetariana se diferenciar da onívora (com consumo de carnes) em aspectos que vão além da simples supressão de produtos de origem animal. Os vegetarianos fazem um consumo elevado de vegetais, frutas, cereais, legumes e nozes, além de sua dieta conter menor quantidade de gordura saturada e, relativamente, maior quantidade de gordura insaturada, carboidratos e fibras. Frequentemente os vegetarianos também ingerem pouco álcool, não fumam e praticam atividades físicas.

Uma alimentação vegetariana adequada pode ser capaz de atender as necessidades nutricionais do organismo (exceto pela vitamina B12), sendo fundamental consultar um profissional para garantir a combinação adequada dos alimentos e não aumentar o risco à saúde por inadequação alimentar.

Pessoas que ainda não estão prontas para se tornar vegetarianas podem se beneficiar da redução do consumo de carnes, principalmente a vermelha. Tecnicamente, precisamos diariamente de aproximadamente 0,8 g de proteínas por quilo de peso corporal. Uma pessoa de 55 kg precisa de 44 g de proteínas provenientes da dieta para satisfazer as suas necessidades fisiológicas. Ou seja, a nossa dieta, de um modo geral, é hiperprotéica. Cada alimento fornece um percentual diferente de proteínas, com qualidades diferentes (composição de aminoácidos). Os vegetais podem fornecer todos os aminoácidos essenciais (que não são sintetizados pelo organismo), desde que haja variedade na ingestão desses alimentos. O nutricionista é o profissional que pode calcular a quantidade de cada nutriente das dietas, adequando-as com segurança às nossas necessidades individuais.

Como a alimentação está relacionada com nosso comportamento, sentimentos e pensamentos? Existe uma relação muito íntima entre o que pensamos e sentimos com o que comemos e esses aspectos se influenciam mutuamente. Manter um padrão emocional positivo terá um impacto positivo sobre as escolhas alimentares, enquanto fornecer bons nutrientes ao cérebro fomentará o bom funcionamento das emoções.

Do ponto de vista bioquímico, todos os elementos químicos presentes no nosso organismo, como enzimas, hormônios e neurotransmissores, são provenientes da dieta. Eles são o combustível que abastece todos os órgãos e sistemas. Mas quem determina como e por que os sistemas farão uso desse combustível é o nosso sistema nervoso. O nosso organismo funciona como um carro: o sistema nervoso é o motorista; o organismo é o veículo e o alimento é o combustível. Se o motorista for gentil com o seu veículo e abastecê-lo com um bom combustível, o bom funcionamento da máquina estará garantido. Mas, se o motorista for imprudente, não há gasolina aditivada que faça a máquina ter bom desempenho. Por outro lado, se o motorista for ótimo e a gasolina for de má qualidade, a máquina também estará comprometida. Se ambos forem de má qualidade, chegaremos onde estamos hoje com a disseminação de uma epidemia mundial de doenças relacionadas à alimentação inadequada, como a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, câncer etc.

Do ponto de vista ecológico e espiritual, a escolha da dieta não envolve apenas o comensal e a sua saúde individual. A cadeia alimentar envolve muitos aspectos: o ambiente, o solo, o sol, a chuva, o trabalho árduo de quem planta e colhe, transporta, vende, prepara; o consumo de recursos utilizados do planeta para a produção dos alimentos etc. Tornar-se vegetariano é uma questão de ética global que precisa partir dos nossos corações.

Desde que nos sintamos parte de um planeta onde todos os seres estão interligados, ao escolhermos a nossa dieta é importante levarmos em consideração aspectos econômicos, ecológicos, éticos, espirituais ou religiosos e, claro, os científicos a respeito de saúde e higiene.

Qual o efeito do vegetarianismo em nossos corpos (físico e sutil)? A dieta vegetariana está baseada no conceito de não violência. Tornar-se vegetariano é um ato de consciência e pode ser o ponto de partida para uma vida mais ética, pautada na compaixão e não na competitividade até as últimas consequências. Comer carne está associado ao assassinato ou sofrimento animal. Uma pessoa consciente não consegue viver psiquicamente bem ingerindo esses alimentos.

Compaixão pelos seres vivos inclui o autorrespeito. O nosso corpo é a casa da nossa alma e dos nossos genes. É a ferramenta pela qual a nossa alma expressa os seus talentos. Um corpo mal cuidado, mal alimentado, atrapalha os planos da nossa moradora mais nobre. Outros moradores ilustres como os nossos antepassados e os nossos futuros descendentes também dependem da boa saúde desse corpo para continuarem essa história. É por meio desse corpo que nos relacionamos com o universo, com a natureza, com as outras pessoas. Todos esses elementos se reuniram – as árvores, as nuvens, o solo, tudo – para trazer a presença deste corpo. O respeito ao próximo depende essencialmente do autorrespeito.

Como o Ayurveda está relacionado com o vegetarianismo? A receita Ayurvédica para a boa saúde existe há mais de 3.000 anos. Essa ciência da longevidade saudável e feliz recomenda, de modo geral, uma dieta ovolactovegetariana com alta ingestão de hortaliças ricas em fibras e nutrientes, muitos grãos (feijões variados), cereais, frutas oleaginosas, ingestão de líquidos, óleos e açúcares de boa qualidade, exercícios físicos, bom sono e descanso, meditação diária e uma atividade sexual saudável.

Existem pessoas que precisam comer carne? Existem casos onde a Ayurveda recomenda a ingestão de carne, desde que seja de boa procedência, fresca, orgânica, e que o preparo dessa carne seja saudável, evitando a formação de agentes carcinogênicos (como ocorre no churrasco). Normalmente usamos o caldo de carne em casos específicos de debilidade física, principalmente em idosos e crianças, em estado de convalescência e desnutrição (energia vata muito agravada).

Quais os cuidados que devemos ter com uma alimentação vegetariana e quais os riscos que uma alimentação vegetariana (para crianças e adultos) pode ter? O cuidado mais urgente na dieta vegetariana é quanto à vitamina B12, que só existe em produtos de origem animal, sendo essencial ao nosso organismo, ou seja, a sua falta provocará desequilíbrios importantíssimos, como a anemia, a impotência, perturbações psiquiátricas e paralisia, podendo levar o indivíduo à morte. A suplementação dessa vitamina deve ser feita por veganos, sem exceção, e os ovolactovegetarianos devem fazer acompanhamento periódico desse nutriente, recorrendo também à suplementação, se for o caso.

Outro nutriente que requer atenção é o zinco – um mineral fundamental para a imunidade, presente com mais intensidade na carne vermelha, nos peixes e frutos do mar.

Os outros riscos alimentares dos vegetarianos são exatamente os mesmos dos onívoros: deficiência ou excesso de determinados nutrientes e suas consequências.

Crianças podem ter uma alimentação vegetariana? Com quais cuidados? Sim, podem. Desde que a dieta seja muito equilibrada, variada, fresca e orgânica – o que requer auxílio profissional. Não se deve basear a dieta de uma criança somente no conhecimento popular e nas informações oferecidas por revistas e internet sob o risco de lhes causar desequilíbrios gravíssimos, às vezes irreversíveis. As grávidas também deveriam ter acompanhamento nutricional desde o planejamento da gestação.


Sugestões de leitura sobre vegetarianismo:

Alimentação sem carne. Dr. Eric Slywitch.

O cérebro desconhecido. Dr. Helion Povoa.


Marise Berg

Terapeuta Ayurvédica e culinarista na clínica Cítara Saúde. É também editora do site www.ayurvedicamente.com.br onde dá dicas de alimentação, saúde e Ayurveda.

E-mail: mariseberg@hotmail.com



Bem Viver no Parque Ibirapuera: Agenda Abril

02/04 (sab) - Saúde da coluna cervical (Bruno Fernandes)

05/04 (ter) - Yoga e Ayurveda: ciências irmãs (Márcia De Luca)

09/04 (sab) - Yoga em duplas (Lídia Mendes)

12/04 (ter) - Descubra seu biótipo do Ayurveda (Márcia De Luca)

16/04 (sab) - Yoga para crianças e adultos (Melissa Pirani)

19/04 (ter) - Yoganidra - relaxamento profundo (Marlei Caroli)

23/04 (sab) - Relaxamento de corpo e mente (Eduardo Monteiro)

26/04 (ter) - Yoga para acalmar - vata (Márcia De Luca)

30/04 (sab) - Princípios éticos do Yoga (Sylvia Freire)



terça-feira, 29 de março de 2011

Biomecânica do Yoga


Por Madu Cabral

A popularização do Yoga tem inúmeros benefícios, mas também alguns riscos. Com um número cada vez maior de professores, os precursores de métodos de Hatha Yoga mais difundidos viram a necessidade de criar regras para manter a essência e benefícios de seus métodos.

Os problemas começam quando os professores passam a dar mais atenção a essas regras do que aos corpos de seus alunos; a metodologia passa a ser mais importante do que o aluno. Regras de alinhamentos das posturas não podem ser aplicadas a todos igualmente. A explicação para isso é um dos princípios básicos do Ayurveda (sistema de cura ancestral indiana, ciência irmã do Yoga): cada corpo é diferente do outro.

O professor Pedro Bara Zanotto, praticante de Hatha Yoga há 11 anos, começou a estudar biomecânica na busca de explicações para como o Yoga funciona e qual a melhor forma de praticá-lo. Neste processo de investigação descobriu um diagnóstico que revelou algumas lesões degenerativas na coluna. Tal descoberta gerou mais interesse em entender estas lesões e o que deveria ser modificado na prática para curá-las ou evitar que se agravassem. Isso o conduziu ao desenvolvimento de um novo olhar sobre a prática e como considerar as individualidades dos alunos. É isso que ele compartilha um pouco nesta entrevista:

O que é biomecânica? A biomecânica examina o corpo e seus movimentos, e fundamenta-se nos princípios e métodos mecânicos e no conhecimento de anatomia e fisiologia. É, portanto, a aplicação das leis e princípios do movimento aos tecidos biológicos.

Como se aplica ao Yoga? Não serve somente ao Yoga, tais conhecimentos deveriam fundamentar qualquer prática que inclua o uso do o corpo e de movimento, portanto tudo que fazemos, desde ficar sentado até o asana mais desafiador. O Yoga tem muito a trocar entre sua tradição de posturas e a sabedoria ancestral de efeitos com uma análise da biomecânica para sabermos exatamente os efeitos agudos e crônicos da postura: que parte é alongada, o que está estável, limites de amplitude articular para preservar as articulações etc.

Por que as lesões são tão frequentes na prática? Há um tempo eu atribuiria boa parte dessas lesões ao próprio praticante que extrapola seus limites. Hoje vejo que é inerente a algumas posturas a demanda de flexibilidade muito elevada e de amplitude articular muito grande, aumentando o risco de lesar a articulação. As permanências em algumas posturas são feitas em um ponto onde determinadas articulações (e, portanto, a própria postura) não estão mais estáveis.

Qual a responsabilidade do professor em evitar as lesões do aluno? Toda. O conhecimento biomecânico é importante tanto para o professor quanto para o aluno, mas o aluno não estudou e nem praticou tantas horas como o professor então confia que este guie sua prática.

Muitos alunos e alguns professores assumem que lesões são “normais”, “que fazem parte do processo” ou acham até que são necessárias para “abrir o corpo” e levar a prática a um novo patamar. Não vejo desta forma. Acho que lesões (as que são crônicas) podem e devem ser evitadas.

O papel de prevenção cabe aos professores, pois o aluno não tem como sentir uma degeneração articular! As lesões crônicas não aparecem de um dia para o outro, são processos duradouros e constantes de mau uso ou mau alinhamento.

Os músculos são altamente vascularizados e inervados: a primeira condição (vascularização) garante regeneração e a segunda (a inervação) garante controle motor e propriocepção – que o músculo informe ao cérebro o quanto ele está estirado e o quanto está tensionado.

Lesões musculares podem ser atribuídas à má organização dos movimentos e desequilíbrios musculares. Ou trauma e/ou esforço intenso. Talvez aqui o praticante tenha também bastante responsabilidade, deve estar aberto a desenvolver a própria sensibilidade. Mas cartilagens e discos intervertebrais são bem diferentes dos músculos: são pouco vascularizados e inervados.

Sem vascularização não podem regenerar. Temos de cuidar bem!
E sem inervação, não podem sentir dor. Quando estamos em pé, a gravidade gera uma força compressiva na coluna. Imagine o que aconteceria no caminhar, se a cada passo sentíssemos a compressão no disco? Seria impossível viver. O disco é uma estrutura de absorção de força, faz sentido que não tenha inervação. Por isso o aluno pode praticar muito tempo de forma lesiva antes de se dar conta; quando o sinal de dor se manifestar é porque já existirá uma lesão.

O disco intervertebral em si não dói, a dor surge quando houver uma protrusão ou hérnia que pressione a raiz nervosa. Só há pressão em direção à raiz nervosa com rompimento dos anéis fibrosos do disco, uma lesão séria. A cartilagem do joelho também não dói, somente surgirá dor quando o desgaste for tanto que a articulação apresente espaço reduzido e formação anormal de tecido ósseo, o que pode levar a outros problemas. Devemos então identificar e modificar os asanas quando forem potencialmente causa de sobrecarga e estresse para estruturas articulares.

Uma dica ao praticante é não achar normais problemas que são apenas comuns. “Estalos” nos joelhos podem ser comuns, mas não são como os joelhos deveriam funcionar: indicam lesão e instabilidade na articulação e mesmo não sendo acompanhados de dor são indicativos de dor futura se algo não for mudado.

Acredito que levar este refinamento à prática e mantê-la segura é responsabilidade do professor.


Cursos relacionados:
Fortaleza nos dias 2 e 3 de julho
Porto Alegre nos dias 24 e 25 de setembro.

Pedro Bara é graduado bacharel em Esporte e professor certificado no método Iyengar Yoga. Atualmente faz parte de equipe do CEDM na área de treinamento.
Contatos:
www.centroiyengar.com.br
www.centrodeestudosdador.com.br

Foto: Thiago Calazans
Greta Hill veste BeYoga


segunda-feira, 28 de março de 2011

Sequência Revigorante

Por Sylvia Freire

Esta é uma sequência revigorante, simples e fácil de memorizar, que alonga e fortalece coluna, pernas, ombros e braços, com uma atenção maior para a torção. Promove a abertura do peito estimulando a energia do coração. Estimula e massageia também os órgãos abdominais, melhorando a digestão e a eliminação. Desenvolve o equilíbrio. Vamos lá!

Balasana


Inicia-se em balasana, postura da criança. Nesta posição, procure estender os braços para frente naturalmente, alongando as laterais do corpo. Apoie as mãos bem espalmadas firmes no chão. A distância entre mãos é a mesma dos ombros. Apoie os glúteos nos calcanhares, relaxando a cabeça e a musculatura do rosto. Deixe a respiração fluir no ritmo natural. Observe o corpo na posição.

Biladasana


Eleve os quadris e entre na postura do gato, biladasana. Nesta posição, alinhe-se mantendo a distância entre os joelhos a mesma do quadril, e a distância das mãos a mesma dos ombros. Mantenha uma linha reta entre quadril e joelhos, ombros e punhos. Olhe para baixo mantendo a coluna paralela ao chão.

Biladasana


Movimente a coluna para baixo, abrindo o peito e subindo a cabeça na inspiração.

Biladasana


Movimente a coluna para cima, contraindo o abdome, soltando a cabeça ao expirar.

Faça este movimento quatro vezes sincronizando-o com a respiração.

Biladasana


Quando terminar os movimentos, volte à posição inicial, checando o seu alinhamento novamente. Agora traga a perna direita à frente apoiando o pé entre as mãos.

Mantenha a mão esquerda e o pé direito firmes no chão. Na próxima inspiração, eleve o braço direito e alongue-o em direção ao infinito. A cabeça acompanha o movimento. Procure abrir o peito. Permaneça estável na posição.

Parivrtta Parsvakonasana


Mantenha o alinhamento da postura anterior, apenas estendendo a perna esquerda. Permaneça em parivrtta parsvakonasana por alguns instantes. Faça algumas respirações profundas e conscientes observando o corpo na posição.

Corredor


Volte o braço apoiando novamente as mãos no chão. Mantenha o olhar para frente na postura do corredor. Faça algumas respirações mantendo a posição.

Adho Mukha Svanasana


Leve a perna direita alongada para trás e transmute para adho mukha svanasana. Nesta posição, alongue todo o seu corpo. Apoie firmemente os pés e mãos no chão. Estenda as pernas e braços. Procure colocar os ísquios para cima, contraia o abdome e alinhe a cabeça no prolongamento natural da coluna (orelha na linha dos braços). Permaneça na posição por algumas respirações, observando o corpo na posição.

Balasana


Retorne a postura da criança, balasana. Relaxe o corpo e pratique a auto-observação. Recomece a sequência para o outro lado. Boa prática!


Namastê.



Sylvia Freire é editora do blog Infinityoga, foi executiva durante muitos anos e depois que descobriu o Yoga, sua vida tomou uma nova direção. O Yoga é a sua filosofia de vida, seu trabalho, maneira como cuida de seu corpo, da alimentação, da sua mente e do seu espiritual. É praticante de Hatha Yoga e eterna estudante.



sexta-feira, 25 de março de 2011

Viajar, cruzar fronteiras e atravessar barreiras


Por Rosângela Castelari


Qual o real objetivo de ir tão longe; à Índia? Difícil responder de forma simplificada como: vou praticar Ashtanga Vinyasa Yoga. É isso também, mas não só isso.


Há quatro anos esse caminho se abriu na minha vida, e eu optei por aceita-lo, viajar para o outro lado do mundo e, renunciando a muitas coisas, decidi viver o Yoga.


Como prática diária e espiritual, sigo a disciplina do Ashtanga Vinyasa e esse sempre foi o objetivo inicial das minhas viagens: ir a Mysore, seguir a tradição do método, praticar onde toda essa história que me envolvi de corpo e alma começou. E assim foi durante três anos consecutivos, minha casa aqui, minha casa lá, afinal é assim que me sinto quando chego à Índia, em casa, mesmo com tudo tão diferente de todos os padrões ocidentais. Assim "despadronizar" deixou de ser um problema e faz parte da minha história.


Desprogramada

Programando a quarta viagem, fui em direção a um lugar muito especial, Tiruvannamalai, no Estado de Tamil Nadu. Por lá viveu Sri Ramana Maharishi, indiano que entrou em contato com seu estado de iluminação aos 16 anos de idade, e assim viveu na montanha sagrada Arunachala, representação de Shiva. Todo seu ensinamento se dá direcionado a uma só explicação: o Self, em que tudo faz parte da mesma coisa, não há separação alguma, nem começo nem fim, somente a essência. E para se voltar a ele, devemos sempre ter em mente o autoquestionamento: “Quem sou eu?”.


Quando cheguei por lá, não conhecia nada sobre Ramana, e, por obra do destino, fui “obrigada” por uma torção a ficar por lá. Foram dias de meditação e silêncio. Dessa forma, por meio da experiência, absorvi grande parte do conhecimento. Entrei em um estado profundo de meditação e felicidade dentro da caverna onde vivia o sábio Bhagavan.


Após a intensidade da experiência voltada para dentro em Tiruvannamalai, chegou o momento de partir, mudar de direção e seguir o coração rumo a Goa. Onde consegui retornar ao sadhana praticando Ashtanga Vinyasa com Rolf, aluno antigo de Sri K. Pattabhi Jois.


Unir os insights da primeira parte da viagem com este “novo agora” foi o maior ensinamento, pois a absorção do conhecimento só vem a nós com a prática. E não estou falando somente da abençoada prática dos asanas e pranayamas, essas são as ferramentas. Falo da prática do Yoga na vida, no dia a dia, pois percebo que quanto mais estamos presentes nos acontecimentos, maior a nossa responsabilidade em saber lidar com tudo que chega a nós.


E assim, mais uma vez com a escolha do destino, a história dessa viagem transformadora se fecha em um único ponto, talvez o mais importante de nossas vidas. O amor.


Aquela palavra que aprendemos desde cedo, mas não compreendemos o significado real de amar. Por pura confusão da mente, esquecemos da simplicidade de viver com amor.


Seguindo o coração sem muitos questionamentos podemos absorver o conhecimento transmitido por nossos mestres em qualquer lugar do mundo. Já que não existem fronteiras, obstáculos ou caminhos a percorrer. A felicidade já está, basta enxergá-la no coração com amor.


Rosangela Castellari pratica e dá aulas de Ashtanga Vinyasa Yoga em São Paulo, no Instituto Brasileiro de Naturologia www.institutodenaturologia.org.br e no BioNathus www.bionathus.com.br. E escreve no blog youaregiventofly.blogspot.com



quinta-feira, 24 de março de 2011

Vários métodos, mesmo objetivo


Por Maria Cury

Ilustração: Madu Cabral


Pratiquei Iyengar por seis anos, o que me trouxe consciência corporal, flexibilidade e alinhamento nos asanas, além das centenas de benefícios e mudanças que vão além do mat. Hoje uso esta base no Ashtanga Vinyasa Yoga da forma que sinto ser possível, pois são escolas diferentes e com metodologias diferentes. O que permanece em ambos os estilos é a forte sensação de presença quando estou no mat, um estado de união minha com o Ser Universal e com os milhares de praticantes que estão em algum lugar do mundo transpirando comigo.


Acredito que se o praticante tem interesse e energia para se dedicar à prática, e estudando com um bom professor, ele deve optar por um dos métodos. Sempre procurei zelar pela pureza da escola em que estava, ou seja, pratiquei seis anos só Iyengar Yoga. Há um ano e meio comecei a estudar o Ashtanga Vinyasa Yoga e então esta se tornou a minha prática diária e o que ensino aos meus alunos.


Entre métodos

Na minha experiência o Iyengar Yoga é uma prática incrível que proporciona forte mudança física, mental e espiritual. Trabalhamos bem com a precisão de cada ação, alinhamento e permanência nas posturas. Os pranayamas são executados à parte e em cada aula praticamos uma sequência de asanas diferente. Já o Ashtanga é apaixonante e, ao me ver, uma prática mais livre e interna.


O que mais gosto neste método é a constante presença do ujjayi, a respiração que me conecta profundamente com o Agora. Segundo ponto que aprecio: a repetição. Antes de ser professora, estudei um ano de medicina na Santa Casa de São Paulo. Tive um professor que dizia: "a gente só aprende com a repetição". É isso, repetir e praticar todos os dias por um longo tempo. E a terceira maravilha deste método é descrita em uma famosa frase de Pattabhi Jois, nosso querido Guruji: “Yoga é 99% prática e 1% teoria”.


Namastê


Veja a página de Maria no FaceBook



Conceitos na prática



Por Madu Cabral

O Ashtanga Vinyasa Yoga, por ser uma prática fisicamente intensa, pode fazer com que o praticante se esqueça dos verdadeiros conceitos e do objetivo da prática de Yoga: o autoconhecimento para alcançar a libertação.


Muitos passaram a procurar esse estilo de prática para suar, malhar e perder uns quilinhos. Realmente esses podem ser alguns dos efeitos da prática, mas quem para por aí está deixando de ter os maiores benefícios, os que realmente importam: mente tranquila, clareza de pensamento e libertação dos sofrimentos.


O professor e praticante de Ashtanga Vinyasa Yoga, Mário Reinert, explica na entrevista abaixo como manter a integridade de sua prática em acordo com os principais conceitos do Yoga.




1. Qual o principal objetivo da prática de Ashtanga? Como um estilo de Hatha Yoga, o objetivo é o mesmo, preparar para o Raja Yoga, ou seja, para um estado meditativo e libertador. Purificar o corpo físico e as nadis (canais energéticos) criando condições para um estado meditativo pleno e consequentemente a autorrealização (khayvalya) ou moksha (liberação).


Claro que isso é idealmente, quando transferimos isso para o ocidente com nosso estilo de vida voltado para fora e para velocidade, podemos dizer que as pessoas buscam o Yoga hoje principalmente por motivos ligados à estética e à saúde como um todo.


2. Qual a diferença entre esse estilo e outros do Hatha Yoga? Fica difícil generalizar tanto, mas creio que as principais diferenças são a utilização de bandhas (fechos de energia – mula, udhyana e jalandhara bandha), vinyasa (conexão da respiração com os movimentos) e ujjayi pranayama durante a prática de posturas, além das sequências fixas de posturas, da prática individual (estilo mysore) e da aplicação de ajustes pelo professor para levar o aluno a aprofundar-se nas posturas.


3. Por que essa prática é considerada a mais intensa de asanas? No Hatha Yoga em geral, assim como no Ashtanga, a prática de asanas tem grande importância, pois é ela que vai preparar para as outras instâncias mais sutis da prática. Por suas características explicadas acima, o praticante tem um avanço grande e rápido na prática física, transformando seu corpo com o calor e os ajustes e atingindo posturas que ele próprio julgava impossíveis de fazer.

Isso pode trazer grande satisfação e progresso para uma prática mais sutil e profunda de pranayamas e meditação, mas pode também reforçar o ego e desviar mais ainda do caminho, gerando arrogância e lesões.


4. Em sua opinião, por que pode haver tantas lesões? Como podemos evitá-las? Esta questão é bem delicada, para entender creio que temos que percorrer alguns pontos essenciais.


O que entendemos hoje por Ashtanga Vinyasa Yoga tem sido bastante alterado e foi se adaptando aos moldes do que se busca no ocidente como prática de Yoga. A busca de condicionamento físico e um corpo sarado tem prevalecido sobre os ideais a serem atingidos, a libertação dos condicionamentos da mente e atingir os estados supremos de consciência. Em sua essência, a prática de Yoga é uma prática de união com o Todo.


A prática física deveria ser vista apenas como um passo e jamais como fim.

Quando a busca se torna esse ideal físico, não há como evitar a competição que isso gera e pessoas querendo fazer mais do que o outro ou igual ao outro, tirando o foco de uma superação dos próprios limites para uma busca de quem é melhor. Com isso, chegamos a algo não muito diferente do que um esporte competitivo, onde as lesões são uma constante.


No momento em que existe competição na prática de Yoga e a superação não é a do o seu limite, mas o limite do outro, não há como impedir os machucados, pois ignoraremos nossos limites para atingir o objetivo. Por outro lado, se nos acomodamos e não ousamos ir além dos nossos medos, corremos o risco de ficarmos estagnados e não atingirmos as transformações que a prática pode proporcionar.


O segredo está sempre neste limiar, tão tênue e difícil de perceber.


Quando estamos deixando de fazer o que poderíamos pra permanecer no conforto? Quando estamos deixando de fazer por que nosso verdadeiro limite já foi atingido e precisamos nos proteger?


Gosto muito da citação de São Francisco de Assis:

“Senhor, dai-me forças para mudar o que pode ser mudado. A resignação para aceitar o que não pode ser mudado e a sabedoria para distinguir uma coisa da outra”. Se observarmos com atenção, passamos a vida tentando mudar o que deve ser aceito, aceitamos o que poderia ser mudado e com isso vem dor e sofrimento.


Ainda falando do nosso limiar, não podemos esquecer uma distinção fundamental entre dor e machucado. Precisamos nos tornar sensíveis para reconhecer esta diferença e isto só virá com a experiência e a prática de Yoga com autoestudo (svadiaya).


É por isso que o papel do professor é importante, pois seria dele a missão de poder observar este limiar e orientar no caminho quando fosse preciso. Mas para isso o professor tem que estar atento, presente e percorrendo o seu caminho com seriedade e compromisso.

Se o aluno vem em busca desta superação a qualquer custo e se o professor não tem conhecimento e compromisso para enxergar o que está acontecendo, o terreno para lesões e sofrimento será fértil.


Eu costumo dizer que a prática do Ashtanga pode ser um atalho para a transformação física, sem aqui falar em melhor ou pior, é apenas um caminho rápido e intenso e como tal, tem que ter mais cuidados, pois traz suas consequências.


Portanto, o ensino deve ser bem gradativo, uma pessoa em condições normais deveria levar anos pra finalizar a primeira série do Ashtanga, e o avanço nas posturas jamais pode ser confundido com fazer Yoga melhor, ou pior, pois Yoga pra valer é na vida e não no tapetinho. Além disso, temos que nos lembrar que no Ocidente nos sentamos em cadeiras e vamos ao banheiro em vasos-sanitários, portanto, ao contrário dos países asiáticos, não usamos nossos limites naturais do corpo em nosso dia a dia, isso demanda cuidados redobrados ao iniciar uma prática de Yoga, pois somos muito enrijecidos por nossos hábitos.


Se há um conselho que posso dar é:

Slowly, slowly you do (devagar, devagar você faz), como se diz na Índia.


Mário Reinert é praticante e professor de Ashtanga Vinyasa Yoga e dará um retiro na páscoa no Patrimonio do Matutu: http://www.astanganamaskara.com.br/matutu/

Site: www.namaskara.com.br
e-mail: marioreinert@namaskara.com.br
fone: 11 5543 0016


IMERSÃO EM ASHTANGA E IYENGAR YOGA NA PÁSCOA
Ashtanga e Iyengar Yoga no Vale do Matutu - Sul de MG
Pranayamas, Kryias Meditação.
Participe! Opções de 5 ou 10 dias - Desconto entre os dias 15 e 20.
http://www.namaskara.com.br/pascoa



quarta-feira, 23 de março de 2011

Massagem pós-Ashtanga Vinyasa


Por Puja Punita

Não há dúvidas de que a prática de Ashtanga Vinyasa Yoga traz muitos benefícios físicos para o corpo, mas também sabemos que é forte e exige preparo físico do praticante. É uma prática incrível para alinhar o corpo, mas não vejo em meus pacientes que praticam essa modalidade de Yoga o relaxamento muscular como parte dos benefícios.

Podemos citar alguns efeitos da prática em nossos músculos e articulações:

Pontos positivos:

– Mais mobilidade para a coluna.
– Melhora na circulação.
– Melhora no tônus muscular.
– Melhor respiração.

Pontos maléficos:

– Tensiona a parte superior corpo (costas, braços e pescoço).
– Exige demais de algumas articulações, como cotovelo, ombro, joelho.
– Comprime sacro.
– Exige muito da lombar.
– Alguns casos de frouxidão ligamentar (instabilidade na articulação) após anos de prática.

Complemento saudável

Receber massagem após a prática pode trazer ganhos enormes, ajuda a adquirir mais flexibilidade, principalmente para quem está começando ou ficou um tempo sem praticar.


A Yoga Massagem, em específico, tem um foco grande nas articulações, o que ajudar a abrir e alinhar o corpo para seu movimento natural. Com isso, a prática fica muito mais fácil e prazerosa.

A massagem também pode ser de grande ajuda na prevenção de lesões decorrentes da prática, trabalhando principalmente a musculatura que envolve as principais articulações, prevenindo a instabilidade na articulação.

Autoajuda
Receber massagem é mais eficiente para o relaxamento do praticante, mas a automassagem também pode ser bem eficiente. Seguem algumas dicas de massagem para as regiões mais trabalhadas na prática de Ashtanga Vinyasa:

Para pulso e mão
Espalhe um pouco de óleo vegetal com óleo essencial de alecrim ou hortelã-pimenta nos pulsos, mãos e cada dedo, massageando bem.

Para lombar e ciático
O ideal para esta massagem é ter uma bola tipo de tênis (não pode ser maior, mas pode ser mais macia).
Após a prática de Yoga, deitar de barriga para cima no próprio mat, dobrar os dois joelhos e erguer o quadril. Posicione a bola na lombar e pressione-a com seu corpo contra o chão. Onde sentir dor fique um pouco mais de tempo e, ao diminuir a dor nesse ponto sensível, siga para outro ponto da lombar.

Para pescoço e trapézio
Espalhe um pouco de óleo vegetal com óleo essencial de alecrim ou hortelã-pimenta no pescoço e trapézio.
Com as duas mãos ao mesmo tempo, massageie primeiro o pescoço com movimentos da nuca para baixo, depois partindo da cervical para frente e finalmente movimentos circulares.
No trapézio, fazer movimento de pinça e pressionando bem com a ponta dos dedos.

Puja Punita é terapeuta especializada em Yoga Massagem e dá cursos de formação de terapeutas. (11) 9601-8016, www.yogamassagem.com.br


Yoga pelo mundo


Por Tarik Van Prehn


Nasci no Brasil em 1975 e vivi no estado de São Paulo, envolvido pela Mata Atlântica, até 1988. Nesse mesmo ano meus pais foram convidados para trabalhar em Portugal, eu tinha 13 anos quando nos mudamos para Lisboa, da selva para um 9º andar foi um grande contraste, mas a minha paixão pelo surf me manteve "conectado" pelos anos seguintes. Comecei a praticar Yoga diariamente em 1994/95, com 19 anos. Minha avó materna e minha mãe foram sempre vegetarianas e minha avó viveu na Índia por dois anos antes de imigrar da Indonésia para o Brasil no final dos anos 40, foi através dela que conheci o Yoga. O Ashtanga Vinyasa eu só conheci em 1998, viajei para Mysore pela primeira vez em 2001 e voltei anualmente até 2008.


Ashtanga Yoga pelo mundo

Tem sido um grande privilégio poder compartilhar essa prática com tantas pessoas pelo mundo, às vezes me sinto como um "missionário" do Ashtanga Yoga, os convites vão surgindo e vou sendo "enviado" sem ter muito controle sobre os acontecimentos.

Mudam as culturas, mudam as pessoas, mudam os países, mas a prática é sempre a mesma, isso é muito bonito, há milhares de pessoas pelo mundo que diariamente, ao nascer do sol, praticam as mesmas sequências de movimentos, e a prática é transmitida através do toque e do silêncio. Em uma sala de aula há diferença na intensidade e no propósito, mesmo que o motivo não seja consciente, acho que posso afirmar com certa segurança e "experiência direta" que a maioria dos praticantes de Ashtanga quer simplesmente atingir um estado de paz e amor em suas vidas. Pode parecer um clichê, mas é verdade. É claro que se você perguntar para um praticante de Nova York ou de Oslo quais são os motivos, o de Nova York quer diminuir o estresse e o de Oslo quer ser mais flexível e resistente para praticar ski de fundo.


Os motivos conscientes que atraem as pessoas à prática do Yoga são principalmente (nem sempre) externos, as pessoas querem, antes de mais nada, colher os benefícios físicos e estéticos ou diminuir o estresse e o Ashtanga Yoga é sem dúvida um estilo que em pouco tempo vai te proporcionar um corpo forte, flexível e ligeiro e uma mente mais ou menos tranquila. O estado mental e de espírito vai depender principalmente da qualidade da respiração e em grande parte da qualidade e experiência e atitude do professor.


A influência que o meio ambiente tem sobre as pessoas é enorme e vivemos em tempo de grande confusão. Por centenas de anos os verdadeiros iogues se retiraram para as montanhas e grutas do Himalaia ou mantiveram um estilo de vida muito pacato e reservado. Diz-se que Krishnamacharia (mestre de Pattabhi Jois) viveu durante sete anos nas montanhas aprendendo Yoga com seu guru. Compilou, desenvolveu e influenciou mais de um sistema e os compartilhou com o mundo com a esperança de diminuir o sofrimento humano.


Hoje em dia, nós hatha iogues medimos desenvolvimento pessoal e espiritual com a proficiência física, quanto mais posturas, mais "avançado" é o iogue. Buscamos a imagem externa de perfeição ou então acumulamos uma enorme quantidade de conhecimento teórico, decoramos os textos clássicos, estudamos e pronunciamos corretamente o sânscrito etc. Estamos vivendo a era da exteriorização do Yoga, já se fala até do Yoga como um "mercado" ou um "negócio".


No que diz respeito à preservação da tradição, são poucas as pessoas realmente empenhadas nesse trabalho, principalmente quando comparamos o crescente número de estilos e praticantes no mundo, com seus produtos e marcas associadas.

Eu comparo o desenvolvimento do Yoga ocidental com os alimentos geneticamente modificados: bonitos por fora, mas sem nada por dentro, tendo como principal objetivo gerar produtos e capital, e os efeitos a longo prazo ninguém sabe realmente. Já existem muitos Yogas geneticamente modificados ou Yoga transgênicos, é normal encontrar sistemas muito populares criados por uma pessoa que estudou vários sistemas e misturou um pouco de cada um.


Pode até ser que os praticantes desses sistemas colham alguns benefícios, mas o fato é que quem os criou, normalmente não os praticou por tempo suficiente. Basta estudar o percurso dos seus criadores para perceber que os anos de prática de todos eles foram ou com BKS Iyengar ou com Sri K Pattabhi Jois ou Swamy Sivananda, ou então com alunos avançados desses mesmos mestres.

Pessoalmente, acho positivo que as pessoas pratiquem Yoga independentemente do estilo, também acredito que a comercialização do Yoga possa até ter uma função positiva, pois eventualmente, e se a busca for sincera, mais cedo ou mais tarde, nessa vida ou na próxima, qualquer estudante dedicado irá certamente manifestar em vida a paz e o amor que refletem a verdadeira natureza interior de cada um.


Hoje em dia tento colocar a minha relação com o Yoga em profundidade e em perspectiva: como vou manter a disciplina e a dedicação nos próximos 25 ou mais anos? No que diz respeito à prática tradicional do Ashtanga Vinyasa Yoga de Sri K Pattabhi Jois e pelo que tenho observado, há uma barreira entre os cinco e sete anos de dedicação diária para que o praticante consiga aceitar as suas limitações físicas e transcender as dimensões mais externas do corpo e do ego, para poder experimentar as dimensões mais internas da prática.


Há de fato um grande trabalho de limpeza e purificação do corpo e da mente para poder manifestar a paz e o amor que buscamos, e esse trabalho nem sempre ou quase nunca é prazeroso, como dizia Guruji: “No pain, no Yoga”.

Infelizmente muita gente desiste antes mesmo de ter sentido os benefícios internos. A dor física e psicológica infelizmente faz com que projetemos as nossas frustrações no Yoga, simplesmente por não termos atingido os nossos objetivos de forma rápida ou imediata. É o reflexo da sociedade de consumo e da geração fast-food.


O Yoga é uma tradição de centenas ou milhares de anos. Segundo Sharath, o asana é apenas o alicerce e o Yoga é o caminho para a Verdade. Em uma conferência em Mysore um aluno perguntou a Sharath por que existem seis séries, Sharath respondeu que quando não se encontra a autorrealização na primeira série, você tenta a segunda, se ainda não atingiu, tenta a terceira e assim por diante.


A maioria dos praticantes não vai atingir a autorrealização nessa vida, mas se não tentarmos, seguramente que não iremos. Como Guruji costumava dizer: “Yoga takes many life times, in this one not coming, next life time you take, no problem, you take one by one” (O Yoga leva muitas vidas, se não vier nessa vem na próxima vez, sem problemas, você leva passo a passo).


Eu ainda não desisti de tentar fazer com que as pessoas não desistam. E é essa energia que me faz continuar a viajar e inspirar as pessoas, sabendo claramente que o verdadeiro professor é a prática. Eu como meus companheiros, somos somente veículos ou canais de transmissão de uma arte que é muito maior do que todos nós. O que estou seguro é que há práticas boas e práticas difíceis, e vai ser assim até a última prática da minha vida, mas me sinto melhor quando pratico, e isso é o suficiente para continuar.


O Yoga é experiência direta e não passa por palavras bonitas nem por corpos perfeitos. Não há teoria, o conhecimento serve somente para "apontar" ou guiar o estudante em determinada direção, mas o caminho cada um tem de percorrer sozinho. O Yoga a gente sabe quando sente, e quem sente não desiste, mas para sentir-se são necessários anos de dedicação. Posso garantir que 100% das pessoas que mantêm uma prática regular e consistente por vários anos manifestam em suas vidas exatamente aquilo que desejam.


A grande aventura da vida é essa capacidade e total liberdade que temos de sermos livres para mudar e evoluir, temos essa oportunidade de purificar a nossa mente e intenção todos os dias, para manifestar e cocriar a nossa realidade. As coisas externas e os fatores externos são finitos, pode ser puro entretenimento manifestar esses "desejos" que trazem sem dúvida uma sensação de bem-estar ou servem como sinais que estamos no caminho certo. Mas o que conta realmente é o que se passa dentro, é a qualidade da energia interna que desenvolvemos por meio da prática, com mais ou menos coisas, mais ou menos dinheiro, com mais ou menos saúde, devemos nos perguntar: Estou em Paz?


Practice... Practice... All is coming... aqui... agora...


Tarik Van Prehn entre 2000 e 2003 deu aulas principalmente em Portugal, Espanha, Singapura, Malásia e Austrália. Entre 2004 e 2008 teve uma escola em Portugal ensinando principalmente em Lisboa. Nesse período também deu aulas no Brasil e no Havaí com seu grande amigo Matt Corigliano, companheiro de tapete e de ondas. Atualmente dá aulas principalmente na Noruega, Nova York, Espanha e Portugal e está de partida para a Tailândia para uma experiência de dois meses.