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quinta-feira, 24 de março de 2011

Conceitos na prática



Por Madu Cabral

O Ashtanga Vinyasa Yoga, por ser uma prática fisicamente intensa, pode fazer com que o praticante se esqueça dos verdadeiros conceitos e do objetivo da prática de Yoga: o autoconhecimento para alcançar a libertação.


Muitos passaram a procurar esse estilo de prática para suar, malhar e perder uns quilinhos. Realmente esses podem ser alguns dos efeitos da prática, mas quem para por aí está deixando de ter os maiores benefícios, os que realmente importam: mente tranquila, clareza de pensamento e libertação dos sofrimentos.


O professor e praticante de Ashtanga Vinyasa Yoga, Mário Reinert, explica na entrevista abaixo como manter a integridade de sua prática em acordo com os principais conceitos do Yoga.




1. Qual o principal objetivo da prática de Ashtanga? Como um estilo de Hatha Yoga, o objetivo é o mesmo, preparar para o Raja Yoga, ou seja, para um estado meditativo e libertador. Purificar o corpo físico e as nadis (canais energéticos) criando condições para um estado meditativo pleno e consequentemente a autorrealização (khayvalya) ou moksha (liberação).


Claro que isso é idealmente, quando transferimos isso para o ocidente com nosso estilo de vida voltado para fora e para velocidade, podemos dizer que as pessoas buscam o Yoga hoje principalmente por motivos ligados à estética e à saúde como um todo.


2. Qual a diferença entre esse estilo e outros do Hatha Yoga? Fica difícil generalizar tanto, mas creio que as principais diferenças são a utilização de bandhas (fechos de energia – mula, udhyana e jalandhara bandha), vinyasa (conexão da respiração com os movimentos) e ujjayi pranayama durante a prática de posturas, além das sequências fixas de posturas, da prática individual (estilo mysore) e da aplicação de ajustes pelo professor para levar o aluno a aprofundar-se nas posturas.


3. Por que essa prática é considerada a mais intensa de asanas? No Hatha Yoga em geral, assim como no Ashtanga, a prática de asanas tem grande importância, pois é ela que vai preparar para as outras instâncias mais sutis da prática. Por suas características explicadas acima, o praticante tem um avanço grande e rápido na prática física, transformando seu corpo com o calor e os ajustes e atingindo posturas que ele próprio julgava impossíveis de fazer.

Isso pode trazer grande satisfação e progresso para uma prática mais sutil e profunda de pranayamas e meditação, mas pode também reforçar o ego e desviar mais ainda do caminho, gerando arrogância e lesões.


4. Em sua opinião, por que pode haver tantas lesões? Como podemos evitá-las? Esta questão é bem delicada, para entender creio que temos que percorrer alguns pontos essenciais.


O que entendemos hoje por Ashtanga Vinyasa Yoga tem sido bastante alterado e foi se adaptando aos moldes do que se busca no ocidente como prática de Yoga. A busca de condicionamento físico e um corpo sarado tem prevalecido sobre os ideais a serem atingidos, a libertação dos condicionamentos da mente e atingir os estados supremos de consciência. Em sua essência, a prática de Yoga é uma prática de união com o Todo.


A prática física deveria ser vista apenas como um passo e jamais como fim.

Quando a busca se torna esse ideal físico, não há como evitar a competição que isso gera e pessoas querendo fazer mais do que o outro ou igual ao outro, tirando o foco de uma superação dos próprios limites para uma busca de quem é melhor. Com isso, chegamos a algo não muito diferente do que um esporte competitivo, onde as lesões são uma constante.


No momento em que existe competição na prática de Yoga e a superação não é a do o seu limite, mas o limite do outro, não há como impedir os machucados, pois ignoraremos nossos limites para atingir o objetivo. Por outro lado, se nos acomodamos e não ousamos ir além dos nossos medos, corremos o risco de ficarmos estagnados e não atingirmos as transformações que a prática pode proporcionar.


O segredo está sempre neste limiar, tão tênue e difícil de perceber.


Quando estamos deixando de fazer o que poderíamos pra permanecer no conforto? Quando estamos deixando de fazer por que nosso verdadeiro limite já foi atingido e precisamos nos proteger?


Gosto muito da citação de São Francisco de Assis:

“Senhor, dai-me forças para mudar o que pode ser mudado. A resignação para aceitar o que não pode ser mudado e a sabedoria para distinguir uma coisa da outra”. Se observarmos com atenção, passamos a vida tentando mudar o que deve ser aceito, aceitamos o que poderia ser mudado e com isso vem dor e sofrimento.


Ainda falando do nosso limiar, não podemos esquecer uma distinção fundamental entre dor e machucado. Precisamos nos tornar sensíveis para reconhecer esta diferença e isto só virá com a experiência e a prática de Yoga com autoestudo (svadiaya).


É por isso que o papel do professor é importante, pois seria dele a missão de poder observar este limiar e orientar no caminho quando fosse preciso. Mas para isso o professor tem que estar atento, presente e percorrendo o seu caminho com seriedade e compromisso.

Se o aluno vem em busca desta superação a qualquer custo e se o professor não tem conhecimento e compromisso para enxergar o que está acontecendo, o terreno para lesões e sofrimento será fértil.


Eu costumo dizer que a prática do Ashtanga pode ser um atalho para a transformação física, sem aqui falar em melhor ou pior, é apenas um caminho rápido e intenso e como tal, tem que ter mais cuidados, pois traz suas consequências.


Portanto, o ensino deve ser bem gradativo, uma pessoa em condições normais deveria levar anos pra finalizar a primeira série do Ashtanga, e o avanço nas posturas jamais pode ser confundido com fazer Yoga melhor, ou pior, pois Yoga pra valer é na vida e não no tapetinho. Além disso, temos que nos lembrar que no Ocidente nos sentamos em cadeiras e vamos ao banheiro em vasos-sanitários, portanto, ao contrário dos países asiáticos, não usamos nossos limites naturais do corpo em nosso dia a dia, isso demanda cuidados redobrados ao iniciar uma prática de Yoga, pois somos muito enrijecidos por nossos hábitos.


Se há um conselho que posso dar é:

Slowly, slowly you do (devagar, devagar você faz), como se diz na Índia.


Mário Reinert é praticante e professor de Ashtanga Vinyasa Yoga e dará um retiro na páscoa no Patrimonio do Matutu: http://www.astanganamaskara.com.br/matutu/

Site: www.namaskara.com.br
e-mail: marioreinert@namaskara.com.br
fone: 11 5543 0016


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Um comentário:

  1. legal! gostei bastante do artigo! sou muito grata pois eu estava muito afim de fazer vinyasa, mas tinha alguns preconceitos, achei que era mais um de rose da vida ( rsrs) mas percebi que o negócio é sério mesmo, claro que agora vai depender da escola que escolher pra fazer o ashtanga vinyasa!!! novamente muito grata ao professor e ao blogg que disponibilizou tudo isso !! om Shanti!

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