Por Carlos Eduardo Gonzales Barbosa
Os rituais vinculados ao tempo sempre foram muitos. Alguns indicavam o momento propício para o plantio e a época certa para a colheita, regulados pelas estações do ano. Outros ajustavam a mente para as tarefas do dia, ou a tranquilizavam para o sono à noite.
Muitos atos comuns eram ritualizados, ganhando uma cadência e um ritmo ajustados para maximizar seus efeitos ou resultados. O ritual, nesse sentido, era um procedimento que ajustava nossas expectativas ao andamento natural de qualquer processo que buscasse maturação ou transformação. A flor tem um tempo certo para desabrochar, e o fruto tem o seu momento de amadurecer. A beleza perfeita da flor e o sabor delicioso do fruto são o resultado de se permitir que o tempo certo seja alcançado por aquela expressão da vida natural.
Nossos antepassados tinham a paciência de aguardar o momento propício para aquilo que desejavam fazer. Respeitando o tempo dessa maneira, ainda que desprovidos dos recursos e confortos que nos beneficiam hoje, desfrutavam de uma qualidade de vida muito superior à nossa. A civilização moderna, no entanto, rompeu esse milenar respeito ao tempo e entrou em um processo de enfrentamento da ordem natural, perdendo a percepção do tempo e focando apenas nos resultados. A velocidade acelerada da vida moderna nos tornou incompatíveis com a maior parte dos rituais.
Nossos antepassados perceberam que nossa mente funciona, de certa maneira, como um vegetal. Ideias e valores precisam ser cultivados com cuidado e atenção, para que no momento certo, produzam suas flores e frutos. Privar a mente de seu ritmo próprio e impor a ela uma rapidez artificial foi uma opção equivocada de nossa civilização, que removeu de muitos processos mentais ou fisiológicos o tempo próprio de ocorrência e finalização.
O excesso de atividades e estímulos sensoriais a que se expõe o indivíduo moderno produz o estresse, que é uma tensão interna destinada a promover a assimilação das informações recebidas. Quando falta o tempo necessário ao relaxamento após essa estimulação inicial, o estresse torna-se mal resolvido e produz efeitos danosos na nossa estrutura corpórea e mental. O ritual, por outro lado, orienta a atenção do praticante e elimina os efeitos negativos do estresse, porque permite que o processamento do estímulo sensorial tome o tempo necessário para concluir o seu ciclo e se tornar benigno.
A reinserção do ritual em nossas vidas é, portanto, uma necessidade concreta, mas precisa ser feita com naturalidade. Um ritual deve obedecer a uma ordem que se depreende naturalmente dos fatos, e que não deve ser imposta por convenções sociais. O ritual será sempre benigno se for feito de modo a ajustar o ritmo de nossas atividades, a fortalecer nossa atenção e a reafirmar os valores que nos dão sustentação social.
Carlos Eduardo Gonzales Barbosa é mineiro de Juiz de Fora, dedica-se ao estudo das culturas da Índia desde 1972. Cursou sânscrito na Universidade de São Paulo e, desde 1975, ministra cursos e palestras sobre temas relacionados à Índia, ao hinduísmo e ao Yoga. Em 2010, Carlos dará um curso de sânscrito falado pela internet. editor@yogaforum.org
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