Maíra Duarte
"Para mudarmos o mundo é preciso mudarmos a maneira de nascer."
Essa é uma frase clássica do conceituado obstetra francês Michel Odent. Os traumas que sofremos durante o parto e nos primeiros meses de vida repercutem na construção do nosso caráter e em nossa inteligência emocional. Não se trata de nascer de parto normal ou cesáreo, trata-se de modificarmos totalmente a maneira de enxergarmos esse momento.
Novo para quem chega
Para o bebê, o parto representa a transição. É quando sai do conforto uterino e se depara com um mundo totalmente desconhecido. Esse bebê nunca teve sua pele tocada, nunca enxergou com nitidez, nunca respirou e nunca esteve em um espaço sem contenção física. O útero é apertado, escuro, úmido e macio, só não é silencioso, mas tem ruídos bem distintos dos que ouvimos aqui fora.
Paramos para pensar que o nascimento é a experiência sensorial mais intensa da nossa vida? Em que os cinco sentidos são hiperestimulados de uma só vez?! Logo que nasce, a criança precisa respirar bruscamente, é esfregada com um pano para tirar a "sujeira" do parto, recebe colírio cáustico em seus olhos e tem suas via aéreas aspiradas por sonda enquanto escuta o tilintar dos instrumentos de metal. E nós mal refletimos sobre isso.
Após receber cuidados protocolares e invasivos, o bebê conhece rapidamente a mãe e segue para o berçário, muitas vezes sem mamar, onde fica por horas, estendido em uma posição totalmente nova para seu corpo.
Esse é o tratamento que os bebês nascidos no Brasil recebem. Nas primeiras duas horas de vida, em que o estímulo de sucção é mais forte no bebê e a pega para a amamentação poderia ser praticada, ele está longe da mãe.
Passadas quatro horas, quando já está letárgico, é levado para ser amamentado. Neste momento, o estímulo à sucção não está tão presente, a pega pode não ser boa e as portas para as dificuldades com a amamentação se abrem. É cada vez mais comum mulheres terem problemas para dar de mamar e a falta de incentivo à amamentação na primeira hora de vida certamente está associada a isso. A ciência já provou e continua ressaltando que o melhor alimento para o bebê é o leite materno. Então, podemos começar a mudar o mundo por aí: proporcionando um alimento rico em proteínas, vitaminas e no ingrediente fundamental que nenhum outro leite artificial tem: anticorpos.
Novo para quem já estava aqui
Para a mulher, o parto também é um evento marcante e único, mesmo que tenha muitos filhos. É um rito de passagem, uma possibilidade de amadurecimento, momento de superação, exercício profundo de entrega à sabedoria do corpo, à natureza. O atendimento humanizado ao parto propõe que a mulher seja respeitada como protagonista em seu parto, que tenha liberdade de movimentos, tenha o acompanhante de escolha, esteja emocional e fisicamente segura, sinta-se confortável no espaço, não se preocupe com o tempo, receba auxílio para alívio da dor, caso haja necessidade e não receba intervenções desnecessárias. Quando isso acontece, ela se transforma e se o companheiro estiver junto, se transforma também. Finalizam a experiência do parto fortalecidos, realizados e confiantes. Essa confiança segue com a mulher pelos processos da maternagem e por toda a vida.
O Yoga e o Ayurveda nos auxiliam a confiar na sabedoria da natureza, a respeitar nossos ciclos, tempos e ritmos. Unindo as novas tecnologias à visão iogue do que envolve a chegada de um ser, estamos gestando uma nova forma de atendimento à gravidez e ao parto. Mães realizadas, pais presentes, bebês acolhidos, mundo melhor.
Maíra é terapeuta ayurvédica formada pela Escola Yoga Brahma Vidyalaya e no Curso Avançado de Ayurveda pela Academia Internacional de Ayurveda, na Índia. Especializou-se nos cuidados ayurvédicos com a gestante (Perfect Pregnancy Program). Doula formada pelo Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) e pela ONG Amigas do Parto, Maíra realiza acompanhamento de gestantes durante a gravidez, trabalho de parto e pós-parto. mairaduarte@gmail.com, (11) 8415-8222.
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