Por Gustavo Ponce
No Yoga, quando falamos em concentração, nos referimos a dharana, um dos ramos da árvore
conhecida por Ashtanga Yoga. Esses
oito ramos são: yama, niyama, asana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi. Os três últimos pertencem ao
mundo interno da mente e do espírito: concentração, meditação e contemplação.
Patanajali em seus famosos Yoga Sutras
dedica dois sutras (aforismos) à
concentração.
A queixa mais frequente de um meditador iniciante é: "não posso me
concentrar. Minha mente não quer ficar quieta e se distrai com qualquer
coisa."
A mente se parece com um cachorro que late tentando cortar as cordas que
o prendem e é fácil entendermos por quê. Isso simplesmente significa que você é
uma pessoa normal: justamente o tipo de pessoa para quem foi inventada a
meditação.
As distrações são esperadas. Podem vir de nosso estilo de vida,
habitualmente distraído e que ainda não fomos capazes de controlar. Também
podem vir de nossa mente subconsciente. Tudo o que experimentamos até hoje está
gravado ali, agradável ou desagradável, aceitável ou inaceitável. Normalmente
mantemos a tampa do pote bem apertada. Mas em estado de relaxamento, como é a
meditação, as restrições são eliminadas, a tampa é retirada e muito do que mantivemos
reprimido pode sair à superfície de nossa mente consciente.
Qualquer que seja a causa, devemos nos dar conta de que as distrações não
são outra coisa do que pensamentos tentando se expressar – principalmente os que
foram reprimidos. Não tentamos removê-los de nossa mente, isso só empurrará
novamente os pensamentos ao subconsciente, à espera de outra oportunidade de
voltar a surgir e nos envenenar a vida. Agimos como se não nos déssemos conta
de que estão ali e olhamos em direção oposta enquanto desfrutam seu momento de
liberdade pairando em nossa mente e logo voarão para o espaço aberto.
O principiante deve supor que se distrairá. É normal, pois em nossa vida
cotidiana sempre estamos distraídos. Normalmente fazemos duas ou três cosias ao
mesmo tempo. Lemos o jornal, mas ao mesmo tempo tomamos chá ou café. Caminhamos
mas ao mesmo tempo olhamos as vitrines das lojas. Estudamos e ao mesmo tempo
escutamos nossa música favorita. Comemos ao mesmo em tempo que conversamos.
Dirigimos enquanto escutamos o rádio. E em nenhum momento achamos que estamos
distraídos. Então vamos meditar e dizemos à mente: “agora temos que nos
concentrar. Devemos pensar nisso e em nada mais”. A mente diz “isso eu nunca
fiz antes. Você nunca me ensinou como fazer”. Normalmente estamos distraídos
quando fazemos outras coisas. Por que será diferente quando meditamos?
O que normalmente fazemos quando meditamos é fixar a mente em um tema e
tratamos de mantê-la ali. Isso é difícil e requer um grande esforço, o que
sugere que algo não vai bem. Para meditar é preciso relaxar no esforço.
O que realmente devemos fazer é ir até a quietude lenta e gradualmente.
É muito melhor começar com as distrações do que acabar por tê-las. Deixe que
venham e vão sem se desesperar; sem removê-las da mente, mas permitindo, em
troca, que entrem como passarinhos que coam por uma janela e saem pela outra. É
melhor começar com meia hora de distrações para encontrar ao final alguns
minutos de quietude do que o contrário. Com a prática, as distrações serão cada
vez menores e poderemos encontrar mais minutos de quietude.
Em vez de forçar a mente a se aquietar, damos a ela algo para fazer,
algo em que prestar atenção. Quando começamos uma meditação nossa mente está
bastante ativa assegurando-se de que os pés, as pernas, os braços e outras
partes do corpo estejam relaxados. A consciência corporal não apenas produz
quietude física, mas também relaxamento e tranquilidade. A consciência da
respiração produz esses mesmos efeitos na mente. Uma mente totalmente ocupada
não tem espaço para distrações.
Uma excelente ajuda para a concentração é o uso de
um mantra. Essa é uma frase curta que repetimos várias vezes. O que fazemos é
dar à mente algo com que se ocupar. Começamos a repetir o mantra de forma
clara: movendo os lábios e emitindo os sons. Gradualmente baixamos o volume,
cada vez mais suave até o ponto em que não dizemos nenhuma palavra ou emitimos
sons, estão apenas em nossos pensamentos – no mesmo ritmo. O que fazemos é dar
a mente algo com que ocupar sua atenção.
Eventualmente, na medida em que nossa mente se
aquieta, o mantra toma vida própria. Então não estaremos repetindo e sim o
escutando como se repetisse sozinho em nosso coração. O mantra se separa dos
lábios e da mente e vai ao coração. A concentração é, portanto, levar a mente a
descansar em um único lugar.
Gustavo Ponce
é o criador do método Sattva Yoga, estuda e utiliza Yogaterapia, é a
prova viva de que consciência pode levar à cura de qualquer doença e
participará do Yoga pela Paz 2011. Para mais informações consulte
www.sattvayoga.cl
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