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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A concentração


Por Gustavo Ponce
Ilustração por Rita Taraborelli

No Yoga, quando falamos em concentração, nos referimos a dharana, um dos ramos da árvore conhecida por Ashtanga Yoga. Esses oito ramos são: yama, niyama, asana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi. Os três últimos pertencem ao mundo interno da mente e do espírito: concentração, meditação e contemplação. Patanajali em seus famosos Yoga Sutras dedica dois sutras (aforismos) à concentração.

A queixa mais frequente de um meditador iniciante é: "não posso me concentrar. Minha mente não quer ficar quieta e se distrai com qualquer coisa."

A mente se parece com um cachorro que late tentando cortar as cordas que o prendem e é fácil entendermos por quê. Isso simplesmente significa que você é uma pessoa normal: justamente o tipo de pessoa para quem foi inventada a meditação.

As distrações são esperadas. Podem vir de nosso estilo de vida, habitualmente distraído e que ainda não fomos capazes de controlar. Também podem vir de nossa mente subconsciente. Tudo o que experimentamos até hoje está gravado ali, agradável ou desagradável, aceitável ou inaceitável. Normalmente mantemos a tampa do pote bem apertada. Mas em estado de relaxamento, como é a meditação, as restrições são eliminadas, a tampa é retirada e muito do que mantivemos reprimido pode sair à superfície de nossa mente consciente.

Qualquer que seja a causa, devemos nos dar conta de que as distrações não são outra coisa do que pensamentos tentando se expressar – principalmente os que foram reprimidos. Não tentamos removê-los de nossa mente, isso só empurrará novamente os pensamentos ao subconsciente, à espera de outra oportunidade de voltar a surgir e nos envenenar a vida. Agimos como se não nos déssemos conta de que estão ali e olhamos em direção oposta enquanto desfrutam seu momento de liberdade pairando em nossa mente e logo voarão para o espaço aberto.

O principiante deve supor que se distrairá. É normal, pois em nossa vida cotidiana sempre estamos distraídos. Normalmente fazemos duas ou três cosias ao mesmo tempo. Lemos o jornal, mas ao mesmo tempo tomamos chá ou café. Caminhamos mas ao mesmo tempo olhamos as vitrines das lojas. Estudamos e ao mesmo tempo escutamos nossa música favorita. Comemos ao mesmo em tempo que conversamos. Dirigimos enquanto escutamos o rádio. E em nenhum momento achamos que estamos distraídos. Então vamos meditar e dizemos à mente: “agora temos que nos concentrar. Devemos pensar nisso e em nada mais”. A mente diz “isso eu nunca fiz antes. Você nunca me ensinou como fazer”. Normalmente estamos distraídos quando fazemos outras coisas. Por que será diferente quando meditamos?

O que normalmente fazemos quando meditamos é fixar a mente em um tema e tratamos de mantê-la ali. Isso é difícil e requer um grande esforço, o que sugere que algo não vai bem. Para meditar é preciso relaxar no esforço.

O que realmente devemos fazer é ir até a quietude lenta e gradualmente. É muito melhor começar com as distrações do que acabar por tê-las. Deixe que venham e vão sem se desesperar; sem removê-las da mente, mas permitindo, em troca, que entrem como passarinhos que coam por uma janela e saem pela outra. É melhor começar com meia hora de distrações para encontrar ao final alguns minutos de quietude do que o contrário. Com a prática, as distrações serão cada vez menores e poderemos encontrar mais minutos de quietude.

Em vez de forçar a mente a se aquietar, damos a ela algo para fazer, algo em que prestar atenção. Quando começamos uma meditação nossa mente está bastante ativa assegurando-se de que os pés, as pernas, os braços e outras partes do corpo estejam relaxados. A consciência corporal não apenas produz quietude física, mas também relaxamento e tranquilidade. A consciência da respiração produz esses mesmos efeitos na mente. Uma mente totalmente ocupada não tem espaço para distrações.

Uma excelente ajuda para a concentração é o uso de um mantra. Essa é uma frase curta que repetimos várias vezes. O que fazemos é dar à mente algo com que se ocupar. Começamos a repetir o mantra de forma clara: movendo os lábios e emitindo os sons. Gradualmente baixamos o volume, cada vez mais suave até o ponto em que não dizemos nenhuma palavra ou emitimos sons, estão apenas em nossos pensamentos – no mesmo ritmo. O que fazemos é dar a mente algo com que ocupar sua atenção.

Eventualmente, na medida em que nossa mente se aquieta, o mantra toma vida própria. Então não estaremos repetindo e sim o escutando como se repetisse sozinho em nosso coração. O mantra se separa dos lábios e da mente e vai ao coração. A concentração é, portanto, levar a mente a descansar em um único lugar.

Gustavo Ponce é o criador do método Sattva Yoga, estuda e utiliza Yogaterapia, é a prova viva de que consciência pode levar à cura de qualquer doença e participará do Yoga pela Paz 2011. Para mais informações consulte www.sattvayoga.cl


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