Por Leandro Castello Branco
O
Vedanta é o conhecimento contido no final de cada Veda, e diz respeito
ao autoconhecimento, ou seja, é o estudo que se propõe a revelar nossa
real natureza. E o Vedanta afirma que nossa natureza é plena, fonte real
de todas as nossas experiências de paz e felicidade. Isso pode até ser
difícil de acreditar, visto que nossa vivência muitas vezes nos aponta o
contrário (já dizia Vinícius de Moraes "tristeza não tem fim,
felicidade, sim"). Mas, se você reparar bem, a experiência de felicidade
que você tem ao tomar um sorvete, ao ganhar alguma coisa que sempre
quis, a experiência de dar o primeiro beijo na pessoa que você ama ou de
ter o primeiro filho, todas elas têm somente uma coisa em comum:
você, feliz, completo.
Em suas mãos
Esse
conhecimento nos diz que não são os objetos e conquistas que nos dão a
sensação de felicidade, mas eles apenas nos mostram, por um breve
momento, a felicidade que nós já somos. Ser feliz, estar bem consigo
mesmo, já é algo que nós somos, o problema é que nos identificamos com o
corpo, que é limitado, e a mente, que é limitada. E a tristeza é
justamente a sensação de limitação, de falta, de carência. Mas, o
verdadeiro "eu" é livre de limitação e, portanto, não afetado pela falta
ou pela carência.
O Vedanta está sempre atual, pois fala sobre
nós mesmos. As questões mais importantes do ser humano são sempre algo
na linha de "quem eu sou?", "qual o meu papel nesse mundo?" ou "pra onde
vou depois que eu morrer?". São questões sobre as quais o ser
humano reflete, mas não tem como achar a resposta por si mesmo. É
preciso um pramanam, um meio de conhecimento, e os Vedas são exatamente isso.
Assim
como o os olhos são o meio adequado de se ver uma cor, o Vedanta é um
meio adequado para conhecer sobre uma questão espiritual: aquela
que transcende o poder de percepção dos seus sentidos e a sua capacidade
de raciocínio. Se você quer saber sobre uma flor, você pode estudar
botânica ou biologia, se quer saber sobre o espaço, pode estudar
astronomia e física. Mas, o que você vai estudar quando quer saber de si
mesmo? Este é o papel do Vedanta. E sendo que temos que conviver com
nós mesmos 100% do nosso tempo, bem... "Quem eu sou?" é uma questão
sempre atual.
Em seu devido lugar
O Vedanta
nos diz que o problema fundamental do ser humano é a identificação
errônea do ser humano com o corpo, com a mente e as emoções. E embora
este seja um problema extremamente complexo, ele pode ser resumido em
uma única palavra: ignorância. Quando você quer iluminar um quarto, não
vai adiantar nada abrir uma lata de refrigerante. Você tem que acender
uma luz. Da mesma forma, para dissipar a ignorância é preciso
conhecimento, não existe outra opção, e este é o papel do Vedanta.
Dito
assim parece simples, porém, nossa identificação com o complexo
corpo/mente é extremamente forte, e é justamente por causa dessa conexão
que podemos vivenciar o mundo como ele é. Então, além de tudo, é uma
conexão necessária. Só que o mundo (e principalmente o mundo atual) nos
passa a falsa ideia de que o corpo pode ser eterno, de que a mente pode
ter tudo o que ela quer. Isso gera um conflito interno muito grave nas
pessoas, pois a propaganda nos mostra algo que percebemos, cedo ou
tarde, não ser verdadeiro.
Com o Hatha Yoga, você começa
a recolocar cada coisa em seu devido lugar. Você começa a ver o seu
corpo como um templo, sua mente como uma ferramenta. Com a prática de asanas (posturas) e pranayama
(exercícios respiratórios), você começa a dominar os desejos, o que é
fundamental para ter uma mente clara, capaz de discriminar. Então, o
Hatha Yoga é uma excelente prática preparatória para o estudo dos Vedas.
A
capacidade de discriminar é, fundamentalmente, o que nos separa de
todas as outras formas de vida no planeta. E, sem perceber, numa vida
turbulenta em que corremos de um lado para o outro, comemos qualquer
coisa que nos apareça pela frente e abrimos mão do sono e do descanso,
nós simplesmente nos desconectamos dessa capacidade. Quando não estamos
trabalhando, estamos dormindo, quando não estamos fazendo nada disso,
estamos nos divertindo. Não há mais tempo para a reflexão, para a
introspecção. Se você tem uma prática de asanas e pranayamas sólida, essa disciplina provoca uma mudança na sua vida e isso acontece porque ela provoca uma mudança na sua mente.
Com
o Hatha Yoga, podemos iniciar esse processo de nos reconectar com a
nossa essência, começando por onde é mais fácil: pelo corpo físico.
Depois, sutilizando a prática, usamos a respiração para começar a
disciplinar a mente. A mente disciplinada acaba se interessando pelo
questionamento interno, e do questionamento interno surge o interesse e a
capacidade de estudar o Vedanta. Uma vida de Yoga é uma vida de
autoestudo.
Cursos Relacionados:
Oficina de Vedanta
Dia: 15 de outubro
Local: YogaFlow CIYMAM (SP)
Informações: (11) 3849-6857
Retiro de Yoga e Vedanta com Leandro Castello Branco e Bruno Jones
Dias 21, 22 e 23 de outubro.
Local: Sítio Santanna, próximo a Itaipava (reg. serrana do Rio)
Informações - contato@saraswatistudio.com
Leandro
é coordenador do Saraswati Studio de Yoga no Rio de Janeiro e pratica
yoga desde o ano 2000. Morou seis meses na Índia em 2006 e desde então
teve a oportunidade de viajar estudando vedanta, yoga e meditação com
diversos mestres como Swami Dayananda Saraswati, S.S. o Dalai Lama e o
mestre zen Thich Nhat Hanh. No início de 2009 recebeu iniciação como
Brahmane, através do ritual Védico tradicional "Upanayanam". Estuda
regularmente desde 2006 com a prof. Gloria Arieira, no Rio.
www.saraswatistudio.com e http://blog.bolsademulher.com/yogaeespiritualidade/
Gostei! ;) bjs
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