Por Maisa Misiara
Foto: Thiago Calazans
A culpa é um sentimento tão antigo quanto a história da humanidade. Parece que já nascemos com essa “tatuagem” em algum lugar do nosso ser. No Ayurveda, quem conhece um pouco as famosas constituições energéticas, chamadas doshas (vata, pitta e kapha), pode imaginá-la em diversas situações; um vata medroso e inseguro diria: por que tive medo e não fiz o que tinha que fazer? Um pitta, de temperamento “quente”, diria: por que fiquei tão irritado e não me controlei? E um kapha, o mais ressentido dos três, cheio de mágoas: por que não consigo esquecer e me perdoar?
Fato é que, com razão ou não, todos nós sentimos e compartilhamos esse sentimento. O “diferencial divino” entre os seres está em como lidamos com isso, na capacidade de compreender e perdoar, quer seja a nós mesmos ou ao outro. Como vemos e processamos os fatos da nossa vida!
Se olharmos para o presente com peso das marcas do passado, utilizamos um filtro viciado, que turva e obscurece nossa visão, e tudo, então, passa pelo condicionamento dessa lente. Passamos a agir e reagir de uma maneira diferente do que realmente gostaríamos, e a viver uma vida distinta da que sonhamos viver. Deixamos nossos sonhos e o que é pior, adoecemos. Assim iniciam-se uma série de desajustes orgânicos.
Essa desconformidade entre o que vivemos e o que nosso Eu profundo, nossa alma, anseia viver é a origem do adoecimento vata (medos, inseguranças, problemas articulares e neurológicos); do pitta (cólera, indignações, hepatites, doenças inflamatórias, hipertensão e problemas cardiovasculares); e do kapha (apego, depressão, edemas, obesidade, problemas metabólicos e diabetes).
Por sermos parecidos por natureza, mas em essência tão diferentes uns dos outros, estranhamos as ações que não nos fazem sentido. Magoados, brigamos, nos afastamos. Passamos a viver uma vida separada não apenas dos inimigos, dos aborrecimentos, como também dos amigos, do que nos traz alegria e de nossas crenças. Deixamos de ver o mundo de forma sadia.
Se retirarmos os óculos das experiências negativas, nossos olhos limpos não restringirão sua visão apenas à realidade criada pela mente, mas sim, perceberão a verdade da nossa realidade. Olharemos em essência. Seja justo ou não o que tenha nos acontecido, é possível renovar e reescrever uma nova mensagem.
A proposta do Yoga e do Ayurveda é simples e transformadora: somos recriados a todo o momento, corpo e mente. Escolher com sabedoria o que nos formará está em nossas mãos. Desintoxicá-los e nutri-los com alimentos e hábitos adequados à nossa constituição; viver com o foco em cada ato singular e com a atenção plena no que está acontecendo são os ensinamentos dessa milenar arte de curar.
A escolha livre de paradigmas do passado reescreve um novo caminho; como diz o texto bíblico, seguir sem olhar para trás! Isso significa perdoar. Nossos registros de sofrimento podem ser mudados.
As práticas de meditação e pranayamas ajudam a ampliar e renovar a nossa percepção e consciência. Respirar é relaxar! Respirar é trazer para nosso sangue um novo fluxo de oxigênio, um novo fluxo de pensamentos e de vitalidade. Assim como o ar entra e sai, o que não é mais necessário pode sair e o novo entrar.
Perdoar não apenas deixa-nos livres de doenças e das amarras emocionais do passado, mas traz à vida o perfume e o frescor do tempo presente.
Maisa Misiara – Médica Homeopata, Ayurveda. Docente do Instituto de Cultura e Escola de Homeopatia, responsável pela Clínica Cítara Saúde.
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