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quinta-feira, 11 de março de 2010

Vida sem Carne

Por Maria Laura Packer
Ilustração: Madu Cabral

O Yoga e o vegetarianismo estão tão próximos que é difícil separar um do outro. O vegetarianismo sempre foi proclamado na Índia como a forma mais adequada de se alimentar, sustentado por um dos princípios mais importantes da filosofia yóguica, o ahimsa (não-violência).

Ahimsa é a ética do hinduísmo, do jainismo e do budismo, que estabelece o respeito pela vida e exalta a importância evitarmos produzir sofrimento e dor aos outros seres, tanto física como emocionalmente. Esse mesmo princípio nos conduz a uma ação ativa de benevolência e compaixão por todas as criaturas viventes.

As Leis de Manu, um dos textos sagrados do hinduísmo, afirmam que "sem matar os seres vivos, a carne não pode ser utilizada, e como matar é contrário aos princípios de ahimsa, deve-se, então, renunciar o consumo de carne".

Já no Yoga Sutra, texto autorizado do Yoga do século III a.C., encontramos que "Estando (o yogue) firmemente estabelecido na não-violência, deixa de existir hostilidade e sua presença". II-35

Nos Corpos
Quando a carne é ingerida, ingere-se junto toda a adrenalina retida no músculo do animal, impregnada de medo e violência. Este medo mantém o homem em um contínuo estado reativo frente às situações da vida. Essa alteração bioquímica produz males físicos e psíquicos.

O constante estado de inquietude e medo torna-o muito sensível às vibrações mais terrenas que ativam o consumo de bebidas e outros hábitos autodestrutivos.

No corpo sutil, o consumo da carne estimula cobiça, ira, medo, luta e fuga e desejos inferiores da alma. O corpo astral do animal é muito forte e aquele que se alimenta de carne embrutece seu corpo emocional, tornando-o mais insensível às vibrações sutis e tênues da vida espiritual.

Na mente
A Chandogya Upanishad diz que a parte mais sutil do alimento forma a matéria mental, ou seja, nossa mente é formada por aquilo que comemos. Assim, o nível vibracional do alimento determina a qualidade dos nossos sentimentos e emoções.

A carne predispõe o homem a agir instintivamente, impulsionado pelo medo, aversão, raiva e outros sentimentos que impregnam os corpos mais sutis. O homem necessita manifestar a intuição e não o instinto, que é o elemento motivador do reino animal.

A carne é um alimento que se opõe à lei eterna da vida (dharma), é geradora e fruto de sofrimento dos maus tratos vividos pelo animal. Não é considerada um alimento adequado à vida espiritual e tampouco aos que desejam trilhar um caminho sustentado na benevolência e na paz. Seu consumo embrutece a natureza humana.

Na alma
A indústria pecuária, só no Brasil, produz cerca de 200 toneladas de excrementos por segundo. Os resíduos gerados por um rebanho de 10 mil cabeças de gado equivalem aos de uma cidade de 110 mil habitantes. Além disso, a pecuária é responsável por 18% das emissões de gases metanos que atuam diretamente no efeito estufa.

A quantidade de grãos usados para alimentar um boi é suficiente para alimentar 40 pessoas. Esse mesmo boi precisa de um a quatro hectares de terra para produzir em média 210 kg de carne. Com a mesma quantidade de terra e no mesmo tempo, poderiam ser produzidas 23 toneladas de trigo, 19 toneladas de arroz, 44 toneladas de batata e 56 toneladas de tomate.

Enfim, não justifica mais querermos comer carne ou manter a crença que a carne é necessária para a manutenção do corpo. Precisamos sair da esfera egoísta pessoal e começar a cuidar do planeta.

Hari OM

Maria Laura Garcia Packer
Professora de Yoga há 23 anos e vegetariana há 29 anos.
Autora dos livros Vegetarianismo - Sustentando a Vida e A Senda do Yoga - Filosofia, Prática e Terapêutica.
www.casadeyogashantiom.com.br


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