Por Dr. David Frawley
Publicado na edição 24 dos Cadernos de Yoga.
Tradução: Gustavo Cunha
O materialismo da cultura moderna não é mais evidente, em parte alguma, do que na nossa sociedade orientada para o consumidor. Na maior parte do tempo, funcionamos como consumidores, tomando produtos do mundo exterior e utilizando-os. Não somos criadores, mas espectadores e consumidores de coisas que nos são dadas do exterior.
Somos consumidores não apenas no aspecto material em relação a comida, roupas, carros e novos relacionamentos, mas também nos aspectos intelectuais e espirituais, com livros novos, cassetes e seminários. Trazemos conosco a mentalidade de consumidor onde quer que vamos. Todo o consumismo é um tipo de ingestão, no qual ingerimos algum produto do mundo exterior. Nesse processo, tornamo-nos mais materialistas, pesados, densos e dependentes.
O consumidor é o consumido. Ser um consumidor é estar envolvido num processo de destruição. O consumo ocorre como a inércia da matéria que se alimenta de si mesma. Eventualmente, nós próprios somos jogados fora como o jornal do dia anterior. No processo de consumir coisas, a nossa vida e criatividade são devoradas pelas forças comerciais e interesses mundanos. Ingerimos sensações temporárias ou ideias que nos mantêm distraídos, afastados do nosso verdadeiro Ser e das suas nobres aspirações.
Projetamos esta mentalidade orientada para o consumidor no mundo espiritual. Procuramos obter a informação espiritual certa, ir aos lugares certos e experienciar as coisas certas de modo a consumir o nosso caminho até Deus ou à iluminação. O ego é o consumidor. Consumir é a lógica do ego material para se alimentar, expandir e crescer. Ser um consumidor é o nível mais primitivo de existência. É ser uma boca, um comedor, um devorador de coisas. Não é ver, mas comer ou ser comido.
Para descobrirmos a verdade do que somos, temos que descartar a mentalidade de consumidor e reafirmar a nossa dignidade espiritual como observadores desapegados. O nosso verdadeiro ser é a consciência. É imaterial, vazia de coisas, desprovida de tudo o que é exterior. Não podemos chegar à nossa verdadeira natureza através de algum tipo de consumo, mas apenas deixando-nos ser consumidos por ela.
cadernosdeyoga.com.br
Texto extraído do livro Vedantic Meditation de David Frawley. www.vedanet.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário