Por Carlos Eduardo Barbosa
Ao pé e à sombra de uma árvore frondosa o shikshaka (professor) ministra a aula para seus chatras (alunos). Esse é um quadro típico da educação hindu tradicional. A imagem da árvore sempre esteve vinculada, na Índia, à ideia de aprendizado e sabedoria. A Bhagavad Gita menciona, no início do capítulo 15, uma árvore imensa que desde o alto lança seus galhos para baixo, cujas folhas são os versos dos Vedas, a fonte da sabedoria. Essa árvore é o ashvattha, a figueira sagrada, cujo nome significa literalmente “onde estão os cavalos”.
O cavalo é frequentemente usado como emblema do fogo na tradição hindu. Acreditam os sacerdotes que a madeira do ashvattha possui um princípio de fogo muito puro dentro de si, que eles extraem por fricção – a única maneira aceita pelo ritual védico para acender o fogo sagrado. Esse fogo presente na árvore tem o poder de promover a purificação do corpo, que é o tapas (queimação). Talvez por essa razão seja este o asana predileto dos ascetas (tapasvinas).
Kundalini, o fogo interno que se aloja junto à raiz da coluna vertebral, faz o prana (energia vital) subir por nosso corpo como o deus Soma faz a seiva subir pelo tronco da árvore. O soma era um princípio de ascensão presente nos vegetais que os sacerdotes extraíam ritualmente para oferecer ao deus Indra e para beber, em busca da elevação do pensamento e da inspiração poética. O fogo na árvore também é entendido como igual à inteligência dos sábios, que contavam suas histórias diante de fogos rituais mantidos permanentemente acesos durante os festivais religiosos.
Poeta e sábio eram palavras sinônimas usadas para designar os autores dos hinos védicos. Na língua sânscrita eles são chamados de rishi, mas que o povo também chamava de riksha, (urso), talvez porque muitos viveram reclusos em grutas nas montanhas – uma palavra que está a uma letra de distância de vriksha, a nossa árvore.
Ascensão, purificação e sabedoria são três atributos desse asana que o praticante deve tomar em consideração quando faz dele o modelo para a postura de seu corpo. Cultivando esses atributos em sua mente, ele assegura bons resultados para a saúde e o bem estar de seu corpo e de sua alma.
Carlos Eduardo Gonzales Barbosa dá aulas de Sânscrito e de Culturas da Índia desde 1982, desde 2004 tem foco no Sânscrito falado. Dedica-se ao estudo da tradição do Yoga, em especial dentro da perspectiva dos Nathas.
Contato: carlos.eduardo@mais.com
site: www.yogaforum.org
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