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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Uma Visão Ayurvédica da Dor no Parto

Por Maíra Duarte

O sistema nervoso é responsável pelo processo de sentir a dor. Existem vários tipos de dor e cada uma requer cuidados diferentes. A dor pode ser quente e latejante, aguda e migratória ou pesada e constante. Os três principais fatores que geram dor são: bloqueios (emocional, fisiológico ou mental), alimentos mal digeridos e excesso do elemento ar no corpo. Toda dor, independente do tipo, indica excesso do elemento ar que governa o sistema nervoso e sensorial. O ar é frio, leve e instável e é equilibrado pelas qualidades quente, úmido e pesado.

Segundo o Ayurveda, é fundamental compreender o que gera desequilíbrio e, ao aliviar os sintomas, não perder de vista a fonte geradora do problema. Muitas vezes aliviar a dor pode ser apenas esconder o que a está gerando e assim o organismo perde a capacidade de reação. Imagine um tornozelo torcido: a pessoa toma um analgésico para eliminar a dor e, sem ela, usa o tornozelo normalmente sem esperar a recuperação dos músculos e ligamentos. Ou alguém que tenha um problema digestivo, como, por exemplo, acidez e toma antiácido com frequência, aliviando o sintoma, mas não cura a origem da doença.

Os tratamentos ayurvédicos para aliviar a dor visam equilibrar o elemento ar e digerir toxinas. Massagens aplicadas com óleos vegetais aquecidos, emplastros, terapias de suor, bastis externos (procedimentos com aplicação de óleo local) e estímulo dos pontos marma (pontos vitais do organismo) que auxiliam no desbloqueio dos canais. Existem algumas ervas para uso interno que aquecem o organismo, digerem toxinas, dilatam os canais e auxiliam no alívio da dor.

A dor no trabalho de parto
Existem alguns aspectos que favorecem o trabalho de parto: equilíbrio dos cinco elementos no corpo, toxinas digeridas, equilíbrio do vento descendente (apana) e boa elasticidade dos tecidos. O acompanhamento pré-natal é fundamental para garantir estes aspectos.

Durante o trabalho de parto, o calor local, o uso de óleos específicos para nutrir os tecidos, a respiração e a música ansiolítica são as principais formas de aliviar a dor. O uso interno (via oral) de infusões de manjericão e canela tem efeito suave no alívio da dor. Todas essas medidas devem ser aprovadas e acompanhadas pelo profissional responsável pelo parto.

Gemido em casal ou dupla com doula
Com o início das contrações, é importante que a mulher mantenha-se relaxada e entregue para que o útero esteja maleável para a dilatação. Quanto menos tensa e enrijecida a mulher estiver, mais facilmente lidará com a dor. Uma boa forma de relaxar no início do trabalho de parto é com o gemido em casal (ou em dupla com a doula). Apoie-se no seu acompanhante de parto relaxando toda a pelve. Ele pode dar sustentação por trás enquanto você segura no pescoço dele. Respirem juntos e soltem o ar junto com um "ahhhhh" bem profundo ou outro som que faça sentido para você. O som vem lá de dentro e não da garganta e deve ser direcionado para baixo, como se fosse sair pela vagina. Fazer junto com o pai do bebê o insere dentro do trabalho de parto, traz uma participação mais íntima e ativa como se estivessem “parindo juntos”. Também é uma boa forma de trabalhar o “nascimento” do pai, seu rito de passagem que muitas vezes fica camuflado pela intensidade da força feminina que envolve a situação.

Massagem
A massagem nos pés é considerada por muitas gestantes extremamente relaxante e prazerosa. Durante o trabalho de parto, ajuda a relaxar suavizando na dor. Todas as partes do pé podem ser massageadas.

Alguns especialistas não indicam o recebimento de massagens no primeiro trimestre da gestação, mas este não é um consenso. Caso a gestante sinta sua pele ressecada ou acúmulo de líquido em certas partes do corpo, pode receber uma oleação e drenagem suave se houver permissão médica.

Após o terceiro mês, a gestante pode receber massagem suave em todo o corpo com regularidade. A partir do oitavo mês é aconselhado que receba oleação diariamente, principalmente na barriga para prevenir estrias. Quando completar nove meses de gestação, o estímulo suave dos marmas que controlam o apana pode ser associado às oleações, e a gestante pode ir a uma clínica ayurvédica receber a massagem abhyanga, uma ou duas vezes por semana.


Maíra é terapeuta ayurvédica formada pela Escola Yoga Brahma Vidyalaya e no Curso Avançado de Ayurveda pela Academia Internacional de Ayurveda, na Índia. Especializou-se nos cuidados ayurvédicos com a gestante (Perfect Pregnancy Program). Doula formada pelo Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) e pela ONG Amigas do Parto, Maíra realiza acompanhamento de gestantes durante a gravidez, trabalho de parto e pós-parto. mairaduarte@gmail.com, (11) 8415-8222.


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